Sonhos ditatoriais

24 de julho 2019 - 07h06
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Fui diretor acadêmico, por cinco anos e meio, entre 2008 e 2014, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), campus Santa Cruz. No período, não vou entrar em detalhes, senti na pele como é difícil ser gestor no Brasil.

Certa feita, depois de uma reunião tumultuada, ao final da manhã, fomos aliviar o stress, à noite, na Praça Tequinha Farias, e um colega elogiou minha postura democrática na condução da tertúlia matutina, mesmo eu tendo sido afrontado por alguns colegas. Respondi-lhe que o meu sonho não era ser um democrata, mas um ditador.

A experiência no Trairi reforçou minhas impressões. Ser ditador é o caminho. E permaneci acalentando o sonho. Mas não um ditadorzinho qualquer, com dúvidas e incertezas na hora de mandar e com poderes cerceados por algumas forças encobertas ou dissimuladas. Assim não quero. Quero ser O Ditador, no estilo cesarista, ou um déspota esclarecido, capaz de penetrar nas profundezas da sociedade e impor meus desejos e minhas pretensões. Segue abaixo o meu decálogo:

1) Toda autoridade pública, principalmente da área educacional, seria obrigada a matricular os seus filhos em escolas públicas.

2) Todos os diretores de escola, reitores, pro-reitores de ensino, secretários de educação municipais e estaduais, diretores do ministério da educação e ministro da educação teriam de se submeter aos exames nacionais de ensino, e os resultados seriam publicizados.

3) Todo servidor público comissionado e todos os servidores da saúde teriam de tratar em postos de saúde e hospitais públicos.

4) Os setores que embaraçassem ou retardassem as ações sob sua responsabilidade seriam denunciados como inoperantes e, em caso de reincidência, os funcionários teriam os salários descontados.

5) As autoridades policiais seriam remuneradas de acordo com o índice de resolução de crimes, promotores pela eficiência e eficácia na condução de processos e juízes pela capacidade de despachar processos e condenar os criminosos.

6) Médicos e dentistas teriam debitadas do valor da consulta o tempo de espera a que submetessem os pacientes; o mesmo valeria para todos os profissionais liberais.

7) Advogados pegos em conluio para encobrir ou facilitar crimes teriam o registro profissional cassado sumariamente.

8) Apenados seriam separados pela gravidade do crime e seriam responsáveis pelo asseio das cadeias e penitenciárias, além de serem obrigados a trabalhar durante o período da pena, para garantir o sustento.

9) Os industriais teriam de consumir as mercadorias que produzem, o mesmo ocorrendo com fazendeiros e congêneres, donos de restaurantes, de lanchonetes, etc.

10) Qualquer contestação às propostas seria tratada como crime de lesa pátria.

O meu código seria afim do Código de Hamurábi. Enquanto o código mesopotâmico foi alicerçado no princípio de Talião (“olho por olho, dente por dente”), o Código Trindade sustenta-se no “estorve e serás estorvado”.  

Tudo o que expus sustenta-se na ideia de que a economia e a sociedade funcionam bem se os agentes forem premiados e remunerados por aquilo que fizerem. Para os liberais, o mercado, a tal mão invisível, resolveria tudo. Como ela, a mão invisível, aqui nos trópicos ficou tão invisível que sumiu literalmente, um César daria o tom.  Por supuoesto, diria o Bolívar que eu carrego, o Código Trindade é uma zombaria. Mas é uma zombaria séria, dado que por aqui a eficiência e a eficácia, e com ela a democracia, foram sufocadas pela burocracia.

O regime no qual vivemos não é a democracia é o da burocracia. E os burocratas estão encastelados na máquina pública e, também, na iniciativa privada, criando embaraços para, com ele, vislumbrarem a oportunidade de fazer negócios.

Vou ser candidato a ditador em 2022. Minha plataforma já está lançada.

Votem em mim!  

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