Nomeação de Lula à Casa Civil teria evitado impeachment de Dilma, diz Temer

17 de Setembro 2019 - 06h38
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Dilma Rousseff teria concluído o seu segundo mandato presidencial se o Supremo Tribunal Federal não tivesse barrado a posse de Lula na chefia da Casa Civil. Foi o que disse o ex-presidente Michel Temer em entrevista ao programa Roda Viva, na noite desta segunda-feira (16). "Se ele fosse chefe da Casa Civil, é muito provável —ele tinha bom contato com o Congresso Nacional— que não se conseguiria fazer o impeachment. Disso não tenho dúvida". Com sua avaliação, Temer realçou indiretamente o papel de dois protagonistas da deposição de Dilma: Sergio Moro e Gilmar Mendes. 

Como juiz da Lava Jato, Moro levantou em março de 2016 o sigilo do célebre grampo em que Dilma avisa a Lula que o "Bessias" estava a caminho, levando o ato de sua nomeação para o ministério. Coube a Gilmar, na pele de ministro do Supremo Tribunal Federal, expedir a liminar que sustou a posse de Lula. Seis meses depois, Dilma foi deposta.

A divulgação do áudio da fatídica conversa desceu ao verbete da enciclopédia como uma transgressão de Moro. O então juiz já havia ordenado à Polícia Federal a suspensão da escuta. O diálogo soou antes que a ordem fosse executada. Nele, Dilma disse a Lula que o ato de nomeação deveria ser usado em caso de necessidade. Ficou subentendido que o documento serviria como um salvo-conduto para evitar a prisão de Lula, que passaria a dispor do foro privilegiado do Supremo.

Temer lembrou que Moro foi censurado na época pelo então relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki, morto num acidente aéreo. Pediu "escusas" à Suprema Corte. Alegou que não tivera a intenção de causar "polêmicas e constrangimentos desnecessários". Hoje, sabe-se que essa desculpa é falsa. O vazamento de mensagens trocadas entre Moro e procuradores revela que a intenção era mesmo a de jogar a conversa no ventilador para evitar que Lula se escondesse atrás do escudo do foro privilegiado.

A despeito da dúvida quanto à legalidade dos procedimentos de Moro, Gilmar Mendes não hesitou em barrar a posse de Lula. Valeu-se de um raciocínio ardiloso. Sustentou que o grampo tornara-se secundário depois que Dilma e Lula reconheceram em manifestações públicas a autenticidade do diálogo. Durante a gestão de Temer, Gilmar consolidou-se como um conselheiro do presidente. Hoje, é um crítico da heterodoxia judicial da Lava Jato e adepto da política de celas abertas.

Instado a avaliar a gestão de Jair Bolsonaro, Temer referiu-se ao capitão como um continuador de sua obra: "O governo Bolsonaro tem um ponto positivo. Esse ponto positivo, modéstia de lado, é porque ele está dando sequência a tudo aquilo que eu fiz".