
Por onde passa, Patrícia Veloso conta que pessoas na rua acenam e gritam para ela: "Que Xou da Xuxa é esse?". Desde que virou meme por causa de uma entrevista que deu quando ainda era criança e que veio à tona somente agora no documentário recém-lançado "Pra Sempre Paquitas" (Globo), a vida da professora de 47 anos se transformou.
O início da fama repentina, afirma ela, foi "assustador". "Foram muitos jornalistas e repórteres me procurando. E eu não sabia mexer muito no Instagram. Até hoje não sei." Mas ela diz querer aprender a usar melhor a rede social para se tornar influencer e participar de programas de TV.
"Estou me preparando para isso. Já emagreci seis quilos com acompanhamento médico", diz. Patrícia ganhou mais de 100 mil seguidores após se revelar como a menina enfezada do vídeo viral.
Ela cresceu, se formou em Direito e trabalhou como professora em escolas, mas vinha nos últimos anos se dedicando ao filho Davi Fernando, de 9 anos, que é autista e precisa fazer seis terapias. Agora, diante do sucesso, revela que tem se dividido entre os trabalhos que aparecem e os cuidados com o menino. "Apresentei o Xou da Xuxa no Rock in Rio e virei garota propaganda da Magalu", comemora.
Diz também que deseja ser uma voz contra o capacitismo. "É inaceitável discriminar uma pessoa por ela ter deficiência ou estar dentro do transtorno do espectro autista."
O sentimento de indignação que demonstrou aos 10 anos ao se revoltar na porta do antigo Teatro Fênix, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, por não conseguir entrar para ver a gravação do programa da Xuxa se mantém presente, garante. "Detesto injustiça. Meu Deus, isso acaba comigo."
O que a faria hoje se revoltar como naquele dia de furor infantil? "Tem muitas coisas que me deixam bem indignada, como a fome e o desemprego, mas no momento o que mais me revolta é o preconceito contra os autistas. Você não tem noção de como eu tenho que brigar pelos direitos do meu filho. Tudo é muito difícil."
De uma família de origem simples —o pai, Luiz Antonio, era vendedor em uma loja e a mãe, Lisete, era professora—, Patrícia cresceu em São João do Meriti, na Baixada Fluminense, vendo os programas da Xuxa ao lado das irmãs Renata e Carine. Ela relata que decidiu cursar Direito na então Universidade Nova Iguaçu, que tinha um campus na cidade, muito por causa do seu espírito indignado.
Nesta época, já trabalhava como professora para pagar a faculdade. Acabou desistindo da advocacia depois de não conseguir "passar por um ponto" no exame da OAB. "Fiquei desanimada."
Em 2008, conheceu o marido, o operador de empilhadeira Fernando Martins, no extinto Orkut. Os dois faziam parte de uma comunidade de nome curioso: "Toda Patrícia é gata." Fernando, diz Patrícia, ficou encantado com a foto que ela exibia em seu perfil. Logo descobriram que moravam perto e se encontraram. Começaram a namorar e, em dois meses, já foram morar juntos. No ano seguinte, se casaram no papel.
Em 2015, nasceu Davi, filho muito planejado e desejado. A gravidez e o parto não foram fáceis. Patrícia revela que, com dois meses de gestação, sofreu um assalto e desenvolveu síndrome do pânico e depressão.
O autismo do filho também demorou a ser detectado. "Eu percebia que ele tinha um certo atraso, principalmente na fala, mas os médicos diziam que não era nada", afirma ela. Aos 7 anos, o menino chegou a receber erroneamente o diagnóstico de uma outra doença. "Encheram meu filho de remédio e ele virou outra criança." Hoje, revela, Davi é um garoto feliz que "ama andar de bicicleta".
Os dois são o grande apoio de Patrícia. Ela conta que o marido sempre soube de sua paixão pela Xuxa. "Eu falava para ele que, se um dia a encontrasse, iria desmaiar", relembra.
A professora conta nunca ter imaginado que uma entrevista que deu há 37 anos e que nem chegou a ir ao ar fosse viralizar agora. "Achei que nem existia mais esse material, porque eu tinha ficado na expectativa de me ver na TV, mas não apareci."
Ela relata que não se lembrava exatamente do que tinha dito ao repórter, só que estava muito irritada. "Eu estava lá desde a madrugada, não tinha tomado café e já era hora do almoço. A vontade de ver a Xuxa era tão grande que não queria sair dali."
Muito fã da apresentadora, Patrícia conta que se ressentia porque muitas das suas vizinhas em São João do Meriti já tinham participado da atração.
Somente aos 16 anos, conseguiu realizar o seu sonho e até dançou uma música de Michael Jackson no palco da atração. "Mas não consegui dar um abraço. Depois da minha participação, as paquitas foram me levando para trás, e a Xuxa fez um gesto para mim lamentando que não iria conseguir me abraçar", revela. "Comecei a chorar porque pensei que nunca mais teria uma oportunidade como aquela."
O momento tão esperado só se realizou mais de 30 anos depois, quando ela foi convidada a ir ao Rock in Rio pelo banco Itaú e encontrou a apresentadora. "Ela foi muito acolhedora e carinhosa comigo."
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Patrícia diz que ainda não conseguiu ver o documentário das paquitas, mas que, assim como milhares de meninas dos anos 1980, sonhava em ser uma das assistentes de palco de Xuxa. No que ela chama de uma "peraltice" de menina, chegou até, escondida da mãe, a passar água oxigenada nos fios castanhos para ficar loira, como era exigido que as paquitas fossem. "Manchei todo o meu cabelo", ri.
Já adulta, com mais de 30 anos, Patrícia tentou algumas outras vezes clarear o cabelo. "Uma vez entrei no salão e falei que queria sair loira como uma paquita", recorda. Nessa oportunidade, ela chegou a desmaiar no salão por ter uma reação alérgica aos produtos químicos. Hoje, prefere exibir os fios na cor natural. "Já usei mechas loiras algumas vezes, mas aquela loucura de loiro total não dá."
Também afirma gostar de ter virado meme e de ser reconhecida, especialmente pelas crianças. "Toda hora me pedem pra tirar foto no shopping, na rua, quando estou comendo em algum lugar. O carinho é muito grande. Fiquei conhecida", diverte-se.
Com informações de Monica Bergamo, Folha de São Paulo