
O vídeo do jornalista Ronaldo Chaves, do portal 14 de Maio, sendo espancado com socos e imobilizado com um mata-leão em frente à Câmara Municipal de Santo Antônio do Descoberto (GO) causou indignação entre entidades da imprensa. A agressão, cometida por um servidor municipal, expôs mais um episódio de violência contra jornalistas na cidade goiana, localizada a apenas 63 km de Brasília, que acumula um histórico de ameaças, espancamentos e até assassinatos de profissionais da comunicação.
Nos últimos dez anos, dois jornalistas foram mortos na cidade após publicarem reportagens críticas. Em 2016, João Miranda do Carmo foi executado com 13 tiros na garagem de casa, por pistoleiros contratados. Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), ele foi morto pelas denúncias que publicava, mas o mandante do crime nunca foi identificado. Três suspeitos foram presos preventivamente, um segue foragido, e o caso ainda não foi julgado.
No ano seguinte, em 2017, o blogueiro Luiz Cláudio Cezário, conhecido como Neguinho Roriz, foi assassinado com tiros nas costas dentro de uma distribuidora de bebidas. O autor do crime, Jovanildo Silva dos Santos, foi condenado a 27 anos de prisão. A motivação foi atribuída a desavenças por reportagens publicadas no blog de Roriz.
A mais recente agressão ocorreu na terça-feira (13/5). Ronaldo Chaves foi atacado por José Sobreiro de Oliveira Filho, servidor comissionado da Prefeitura. Ele era diretor de audiovisual e estava fora do local de trabalho no momento do ataque. O jornalista havia publicado reportagem revelando gastos de R$ 1,5 milhão com artistas para a festa de aniversário da cidade. A agressão ocorreu durante o expediente do servidor, que alegou estar gripado e disse que desistiu de ir ao hospital após a briga.
Imagens mostram o servidor iniciando a agressão com um tapa, derrubando Ronaldo sobre uma moto, desferindo socos e aplicando um mata-leão. O jornalista sofreu lesões no rosto, braço e joelho. Questionado, José Sobreiro afirmou que o ataque foi motivado por "rixas antigas" e matérias que o acusavam de corrupção. Em nota, a prefeitura confirmou a agressão em horário de expediente e disse que o caso será apurado internamente. A prefeita Jéssica do Premium repudiou o ato.
A situação ganhou novos contornos após o diretor de serviços penais da prefeitura, Renato de Souza Gomes, também conhecido como Renato Lobo, publicar foto ao lado do agressor com a legenda: “Você defendeu sua honra, meu amigo”. Renato também é dono da página “SAD Estamos de Olho”, que divulgou o vídeo da agressão e frequentemente publica conteúdos em colaboração com a prefeita e o deputado estadual André do Premium, marido da gestora municipal.
Ronaldo já havia sido ameaçado por André em abril, após publicar uma reportagem sobre um suposto estupro em escola da rede municipal – o segundo caso sob a atual gestão. O deputado enviou áudios com xingamentos e ameaças ao jornalista, dizendo que "iria pra cima" caso novas matérias fossem publicadas. Procurado, André confirmou as ameaças, mas negou ter mandado agredir Ronaldo. Ele afirmou ainda que o servidor será demitido.
Questionado sobre a postagem de apoio ao agressor, Renato Lobo afirmou que apenas manifestou solidariedade ao amigo. A página que administra se recusou a responder se havia sido informada previamente da agressão ou se tem parceria institucional com a prefeitura ou o deputado.