Intoxicado antes de o avião cair: acidente que matou atacante argentino completa cinco anos

22 de Janeiro 2024 - 03h15
Créditos: Reprodução/Instagram

Há exatos cinco anos, morria em um acidente de avião o atacante argentino Emiliano Raúl Sala Taffarel, o Emiliano Sala. Quando viajava em 2019 para se apresentar a um novo clube, a aeronave em que estava caiu.

Inquérito apontou que ele estaria profundamente inconsciente no momento da queda. O motivo seria um envenenamento por monóxido de carbono.

O voo

  • No dia 21 de janeiro de 2019, o futebolista Emiliano Sala viajava para o País de Gales. Ali, assumiria como novo atacante do Cardiff após ter assinado o contrato dois dias antes.
  • A última mensagem de áudio do atacante a familiares quando já estava bordo do avião foi como um presságio.

"Estou em um avião que parece estar caindo aos pedaços. [...] Se não tiverem notícias minhas em uma hora e meia... Já sabem. [...] Estou com medo", Última mensagem de Emiliano Sala a familiares

  • O voo decolou às 19h15 daquele dia do aeroporto Nantes Atlantique, na França. Até o destino, seriam cerca de 500 km voados, um trecho de menos de duas horas.
  • O avião era um Piper PA-46 Malibu. A bordo estavam o atacante e o piloto David Ibbotson.
  • Às 20h12, quatro minutos antes do acidente, o piloto havia se comunicado normalmente via rádio com os controladores de voo. Ele informou que iria fazer uma manobra para evitar uma formação meteorológica desfavorável.
  • Às 20h16, o controle de tráfego aéreo perdeu o contato com a aeronave. Diante da incerteza de sua localização, já que ele não havia chegado ao destino, às 20h50 começaram as operações para encontrar o avião.
  • No dia 24, as buscas oficiais foram encerradas sem sucesso. Já não haveria mais chances de resgatar alguém vivo.
  • Começou uma busca particular, e a família de Sala chegou a contratar um submarino para essa finalidade. Os destroços do avião com o corpo do atacante foram encontrados no dia 3 de fevereiro no fundo do Canal da Mancha, próximo à ilha francesa de Guernsey.
  • O piloto não foi encontrado até hoje. A filha dele chegou a fazer um financiamento coletivo para encontrar o pai. Mesmo contando com doações de estrelas do futebol, como Kylian Mbappe e Gary Lineker, a missão não foi bem-sucedida.

Envenenamento e a queda

  • O relatório final da investigação apontou que os fatores que levaram à queda da aeronave seriam os seguintes:
  • O piloto perdeu o controle da aeronave durante uma curva feita manualmente.
  • Posteriormente, o avião sofreu uma avaria por realizar uma manobra a uma velocidade superior à qual o avião foi desenhado.
  • O piloto, provavelmente, estava envenenado por altas quantidades monóxido de carbono (CO) que teriam sido geradas pelo sistema de exaustão da aeronave.
  • O relatório ainda apontou que a perda de controle do voo teria sido causada por não estarem sendo seguidas as regras de voo. A tentativa de se voar visualmente à noite e em condições adversas (nuvens de chuva) sem o devido preparo também teriam contribuído para a queda.
  • O trajeto do avião nos 90 segundos após a última comunicação foi confuso. Diversas manobras haviam sido realizadas de maneira instável. Os investigadores apontaram que as possíveis causas para isso seriam:
  • O piloto comandou o avião daquela forma deliberadamente para fugir de uma situação meteorológica desfavorável.
  • Ele estava com dificuldades em controlar a aeronave, possivelmente para conseguir voar visualmente. Sua falta de treinamento para voos noturnos e sua falta de experiência recente com voos por instrumento teriam atrapalhado naquele momento.O piloto estaria começando a sentir os efeitos do envenenamento pelo gás monóxido de carbono, o que dificultaria o controle da aeronave.
  • Uma combinação dos fatores descritos anteriormente.

Investigações

Exames feitos no corpo do atacante apontaram altos níveis de monóxido de carbono em seu sangue. A intoxicação aconteceu durante o voo e ele estava profundamente inconsciente no momento da queda, segundo exames realizados. A causa da morte dele foi uma série de ferimentos na cabeça e no peito.

O piloto não tinha licença para realizar o voo. Ibbotson poderia apenas realizar voos privados, e não voos comerciais, como o que levava Emiliano Sala.

David Henderson, empresário que organizou o voo, foi condenado a 18 meses de prisão. A sentença afirmou que ele colocou em risco a segurança dos passageiros ao contratar um piloto mesmo sabendo que ele não tinha as qualificações necessárias para a tarefa.

Avião não era confiável

O piloto havia dito a um amigo que o avião que estava usando seria "duvidoso". Também disse que havia escutado um estrondo alto vindo da aeronave enquanto atravessava o Canal da Mancha em um voo dias antes da queda.

"O avião é duvidoso. [...] Estarei vestindo meu colete salva-vidas", David Ibbotson, piloto do avião que levava Emiliano Sala.

Talento no esporte e namorada brasileira

Emiliano Sala tinha 28 anos quando morreu. Sua morte aconteceu dias após o anúncio de sua contratação pelo clube Cardiff City, do País de Gales.

Ali ele iria jogar na Premier League, principal torneio inglês. Essa era aquisição mais cara do clube à época, ao custo de 18 milhões de euros (cerca de R$ 96 milhões na cotação atual).

Ele era visto como um talento em ascensão no esporte. Em sua trajetória, foram 236 partidas com 95 gols marcados em dez anos. Antes ele havia passado por times como o português Crato e os franceses Bordeaux e Nantes, pelo qual jogou a última partida.

Sala namorava a brasileira Luiza Ungerer, que jogava vôlei pelo time do Nantes, na França. Ex-namorada do atleta, a modelo francesa Berenice Schkair chegou a culpar a "máfia do futebol" pela morte dele.

Três meses após a morte do atacante, o pai dele, Horacio Sala, também morria. Ele não teria superado a dor em perder o filho e teve um infarto.

Com informações do UOL