Da lanchonete à Embaixada do Brasil em Washington

17 de julho 2019 - 15h05
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Nova celeuma foi criada depois que o Presidente Jair Bolsonaro deixou, desde abril, vago o posto de Embaixador do Brasil nos Estados Unidos, quando de lá retirou Sérgio Amaral, competente e experiente diplomata, e aguardou até a semana passada para lançar um balão de ensaio que passeia entre o melancólico e o hilário – a indicação do próprio filho, Eduardo Bolsonaro, para o posto.

O pai exibiu as credenciais da cria: fala inglês. Como é muito pouco para garantir o cargo, o próprio Eduardo acrescentou algumas linhas: além de inglês, fala espanhol, é amigo dos filhos de Donald Trump, fez intercâmbio no Maine, estado que faz fronteira com o Canadá, e já manobrou uma chapa de hamburgueria. Por último, disse ter uma pós-graduação (Especialização) em Economia, que, agora se sabe, ainda não foi concluída.

Todo Presidente da República eleito e que não cometa ilegalidades e frequentes faltas morais deve ser respeitado, pois é, no presidencialismo, sistema de governo aqui adotado, chefe de Governo e de Estado e representa a Nação.

Grande parte dos problemas, alguns pequenos e outros grandes, pelos quais o atual governo federal passa são decorrentes da inaptidão e da inapetência de Bolsonaro para lidar com o complexo mundo da política num regime democrático. Se ele e parte de seus auxiliares ficassem mudos evitassem medidas açodadas, o governo caminharia melhor.

Não discuto se legalmente o Presidente pode ou não nomear o filho como Embaixador, pois os Presidentes eleitos nomeiam e demitem auxiliares. O Supremo Tribunal Federal (STF) não julga empecilho, do ponto de vista legal, em nomeação como a que Bolsonaro pretende fazer.

Não fere a lei, é certo. No entanto, desgasta politicamente o Presidente, pois mostra-o avesso a princípios que defendeu durante a campanha e exige dos partidários dele todo tipo de contorcionismo para explicá-la e justificá-la.

Há duas fronteiras para evitar o erro. A primeira é o próprio Presidente, que, a despeito das manifestações ou principalmente por causa delas, não parece convencido do equívoco que está prestes a cometer; a segunda, o Senado, que pode barrar a nomeação, se exercer umas das funções paras quais existe.

Nomear parentes e aderentes para cargos públicos comissionados foi – e ainda é – prática comum no passado distante do Brasil e diminuiu sensivelmente nos últimos vinte ou trinta anos, ainda que esteja longe de ser sepultada.

Há muita gente aboletada na máquina pública e que lá chegou sob os auspícios de papais, mamães, titios, etc, fiéis aos laços familiares.

Nos últimos dias, o Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, andou ensaiando uma crítica ao ato de Bolsonaro, mas logo se calou. Talvez alguém tenha alertado o Ministro que ele chegou a mais alta corte do Judiciário pelas mãos do primo Fernando Collor de Mello, quando este era Presidente da República no início da década de 1990.

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