A história do 'aviãozinho' de Zagallo: vingança motivou a comemoração

06 de Janeiro 2024 - 04h14
Créditos: Divulgação

Uma virada sensacional da seleção brasileira ganhou uma comemoração que entrou para a história com Zagallo. Em 1996, ao ver sua equipe - formada por jogadores sub-23 - fazer 3 a 2 na África do Sul, em Joanesburgo, o Velho Lobo desfilou no campo fazendo aviãozinho. O ato foi um revide à uma provocação dos sul-africanos e surpreendeu os jogadores brasileiros.

O que aconteceu

  • Era um amistoso da seleção principal da África do Sul contra o time olímpico do Brasil. Os donos da casa jogaram com a equipe que tinha acabado de conquistar a Copa Africana de Nações. O Brasil foi com garotos de até 23 anos reforçados por Aldair, Bebeto e Rivaldo já que a Olimpíada permite só três atletas acima dessa idade máxima.
  • O jogo marcava o centésimo compromisso com Zagallo no comando da seleção e também era festivo pela recolocação da África do Sul no cenário internacional do futebol após o Apartheid.
  • Em campo, os donos da casa pularam logo na frente, com gols de Phil Masinga e Doctor Khumalo, ambos no primeiro tempo.
  • Na comemoração do segundo gol, o técnico da seleção sul-africana, Clive Barker, invadiu o campo fazendo o gesto de aviãozinho, com os braços abertos durante corrida.
  • A atitude irritou Zagallo, que sentiu um deboche dos africanos. A desforra veio em seguida.
  • No intervalo, Zagallo mexeu no time e o Brasil virou. Flávio Conceição, Rivaldo e Bebeto — este com um golaço de voleio — marcaram para o Brasil.
  • E então, no gol de Bebeto, foi a vez da vingança do Velho Lobo. Ele desfilou no campo repetindo de braços abertos num vôo rasante no gramado africano, acompanhado de colegas de seleção.

Falamos com personagens do jogo

Segundo o lateral André Luiz, que participou dos 90 minutos daquele confronto, a atitude do treinador foi uma forma de revidar sem agredir o adversário. Segundo ele, Zagallo não aceitava provocações e respondia na medida certa.

"Foi uma resposta com luva de pelica à provocação do adversário. Foi inteligente, sem agredir ninguém. O Zagallo sempre foi fantástico. Um treinador lúcido, inteligente, e nunca gostou de levar desaforo para casa, ou até mesmo provocação. Ele sempre soube responder na medida certa, sempre nos incentivando a ganhar os jogos. Ele dizia que vencer seria a melhor resposta", André Luiz.

Jogadores estranharam

O atacante Jamelli saiu no intervalo daquela partida e estava ao lado de Zagallo, no banco de reservas, na virada do Brasil. Segundo ele, a atitude do treinador surpreendeu até mesmo os jogadores.

"O pessoal da África estava provocando no banco de reservas, a torcida também. Foi um jogo atípico, começou 2 a 0 para eles. Quando fizemos o terceiro, ele entrou em campo, fez o aviãozinho. Nós estranhamos um pouco porque não era a atitude dele assim, entrar no campo, extravasar. Mas foi um jogão, uma experiência muito boa. Viajar com a seleção sempre era uma ocasião especial, ainda mais na África do Sul, fizemos um passeio, conhecemos Soweto [local onde Nelson Mandela cresceu], muita coisa cultural acontecia naquele momento, tinha o Mandela, o fim do Apartheid, era um momento histórico. Foi um jogo inesquecível, com o aviãozinho que marca até hoje", Jamelli.

Amor que falta pelo Brasil

O ex-volante Amaral, que também estava naquele jogo, o amor que Zagallo tinha pela seleção e a cobrança que fazia aos jogadores era fundamental na formação da equipe. Tal sentimento faz falta na seleção atualmente.

"Eles começaram a dançar, tirar sarro. E depois o Zagallo comemorou como se fosse uma criança. Isso é legal porque se vê a importância que tinha a seleção brasileira naquela época, mesmo num amistoso, sempre tinha cobrança. E a comemoração virou o aviãozinho do professor Zagallo. No tempo que trabalhei com ele, era muito aguerrido, nervoso, cobrava muito, não era antipático por estar na seleção, ele cobrava, gritava, amedrontava, botava autoridade. Eu acho que às vezes falta isso na seleção, cobrança. Tem muito jogador hoje em dia que não gosta de ser cobrado como a gente era antigamente. E quando se é cobrado, se dá resultado. Ele amava muito a seleção, por isso ficou tanto tempo, tinha moral, ninguém falava em tirar o professor Zagallo", Amaral.

Com informações do UOL