
Pouco antes do Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciar a manutenção dos Jogos Tóquio-2020 entre os dias 24 de julho e 9 de agosto, o nadador Bruno Fratus usou sua conta no Twitter para postar as tags #postponetheolympics ("adie os jogos") e #Tokyo2021. Assim que a decisão foi tornada pública, o velocista voltou a usar as redes sociais para dizer que "a mensagem foi claríssima: os Jogos Olímpicos não são sobre esporte e muito menos sobre os atletas. E ele não foi o único a se frustrar:
"Isto não é sobre como as coisas estarão daqui a 4 meses. É sobre como estão agora. O Comitê Olímpico quer que arrisquemos nossa saúde, a de nossas famílias e a da população para treimar todos os dias? Vocês estão nos colocando em perigo agora, hoje, não daqui a 4 meses", postou a atual campeã olímpica e mundial no salto com vara katerina Stefanidi, da Grécia.
Ao não mexer nos Jogos, o COI pode ter levado alívio ao comitê organizador de Tóquio-2020 e aos patrocinadores e fornecedores ligados ao evento. Mas não aos atletas. Para o mundo esportivo, já está mais do que certo que, mantido nas datas atuais, o evento tende a ser sinônimo de frustração. Com o período de treinamentos e de competições já comprometido pelo novo coronavírus, o desempenho tende a ficar bem abaixo das expectativas. Índices expressivos e quebras de recorde devem ser exceção na capital japonesa.
– O COI simplesmente ignorou por completo o desafio e as dificuldades pelos quais os atletas estão passando. O Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão, diz que em 24 de julho tudo isso já passou. Eu também acho. Mas o que vai acontecer com a preparação? – questiona Alex Pussieldi, o Coach, treinador e comentarista de natação do Sportv.
Nos Estados Unidos, Pussieldi testemunhou a dificuldade imposta pelo novo coronavírus. Com o Coral Springs Swim Club fechado, Bruno Fratus ficou sem ter onde treinar. A solução encontrada foi uma piscina a 50 minutos de sua casa.
Pelo mundo inteiro, centros de treinamentos fecharam as portas. No Brasil, foi o caso do Pinheiros, principal casa dos nadadores de alto nível. Para ajudar os atletas que buscam índice, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) estudava levá-los para Belo Horizonte. Mas um decreto da prefeitura determinou o fechamento de todos os clubes da capital mineira.
Calendário afetado
A seletiva olímpica de natação, que seria entre 20 e 25 de abril, também foi afetada. Agora será de 22 a 27 de junho. Outros qualificatórios também foram alterados pelo mundo, como os de Canadá, China, França e Rússia. A mudança tem impacto direto na preparação.
– Os atletas fazem o planejamento de seus programas para dar um pico de performance em determinado ponto. Agora vão dar esse pico a poucos dias da Olimpíada – alerta Pussieldi. – Não é so na natação. É em todos os esportes.
O Globo