(Repost) O B-26 "Invader" que caiu em uma praia urbana de Natal/RN

23 de Janeiro 2023 - 22h59
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Em dezembro de 2021, o blog enfrentou problemas técnicos e perdeu o banco de dados das matérias publicadas até então. Em agosto, um dos posts de maior número de visualizações foi a história do B-26 “Invader” que havia caído na praia de Areia Preta. Depois de muito tempo, conseguimos recuperar o texto com o relato e a entrevista com o sobrevivente, que repostaremos.

Post original:

A cidade de Natal tem muita história ligada a aviação devido a dois momentos. O primeiro por conta dos voos pioneiros, entre eles os que envolvem a presença norte-americana durante a Segunda Guerra, e em um segundo momento, a permanência da Força Aérea Brasileira (FAB), com a instalção de uma das maiores bases do país. Um dos capítulos dessa história é o acidente na praia de Areia Preta que é cercado de mitos, entre eles que o piloto teria livrado e salvo o farol de Mãe Luiza ou que o tripulante sobrevivente teria sofridos outros seis acidentes aeronáuticos em sua carreira militar.

De fato, o acidente ocorreu em 9 de agosto de 1965, quando um um bombardeiro B-26 “Invader”, do 1º/5º Grupo de Aviação (1/5º Gav), de matrícula FAB 5151, decolou na parte da tarde da Base Aérea de Natal (Bant) tendo como tripulação, o capitão Adolfo Peixoto de Melo (comandante da aeronave), o tenente Carlos Schimidt Filho (co-piloto) e o sargento Otácilio Santana (especialista em armamentos).

O B-26 “Invader” incialmente era considerado um bombardeiro leve desenvolvido ainda nos anos 1940 com a denominação americana de A-26. A FAB comprou um lote de 28 exemplares, em 1957, tornando-se a terceira força aérea do mundo com maior número operando este tipo de aeronave, depois dos Estados Unidos e França. O avião era equipado com dois mototres, possuía uma envergadura de 21 metros, pouco mais de 15 m de comprimento e 5,64 metros de altura. Nas duas versões utilizadas pela FAB, “B” e “C”, variava o tipo de armamento, contudo, era basicamente metralhadoras “Browning” M2 de 12,7mm no nariz e até 3.629Kg de bombas no compartimento interno da fuselagem e asas.

O relato a seguir é do sobrevivente, o sargento Santana. No dia do acidente, a missão era realizar exercício de ataque ao solo no campo de Capim Macio, atualmente, à margem esquerda da Avenida Engenheiro Roberto Freire, no sentido Ponta Negra. Após três mergulhos de ataque simulados exitosos, já na quarta tentativa, o comandante da aeronave ao recuperar altitude percebeu a perda de potência em um dos motores, que logo passou a sobrecarregar o segundo que equipava o B-26, o que obrigou a tomar uma decisão, ganhar altitude e virar a aeronave para pouso em Parnamirim ou jogar no mar.

Tudo indica que ele tomou uma terceira via, ao ganhar altitude, tentaria pousar na região connhecida como Barreira Roxa, onde hoje passa a Via Costeira e existe o hotel que leva o nome “Barreira Roxa”. O sobrevivente do acidente, o sargento Santana contou ao o blog que, o piloto ao tomar a decisão explicou que no local possuía um barro duro avermelhado e poderia realizar o pouso de emergência ali.

Pórem, o comandante não contava com a alta velocidade [ainda] e pouco controle sobre o bombardeiro. Com isso, eles passaram direto e quase de imediato veio a decisão de tentar o pouso na água, o que seria  desatroso. O avião caiu nas proximidades de Areia Preta, afundando rapidamente, e custando a vida do piloto e do co-piloto, que só tiveram os corpos encontrados no dia 12 de agosto daquele ano, apesar dos esforços de voluntários, mergulahdores da Capitania dos Portos, civis e da própria FAB.

Um dos mistérios que cercam a tragédia é que o piloto, o capitão Adolfo Peixoto de Melo, era tido como um militar experiente e, ironicamente e tragicamente, ele não fez o cheque dos equipamentos de salvamento no mar, os quais deveriam estar a bordo naquele dia. Há relatos que não era costume levar tais equipamentos a bordo para o tipo de missão, ao contráro do que afirmou o sargento Santana. A decisão de não colocar ou revisar foi fatal, já que o mesmo não sabia nadar.

Acidente no dia 5

Naquela mesma semana, uma outra B-26 (FAB 5148) do mesmo esquadrão havia se acidentado na Base Aérea de Natal, mas sem vítimas, apenas danos materiais. De acordo com a nota oficia, o avião não conseguiu decolar após falha mecânica em um dos motores, impedindo a decolagem, obrigando piloto a passar direto pela pista.

Os hérois civis do acidente da B-26

O acidente envolvendo o B-26, matrícula FAB5151, revelou algumas histórias impressionantes, como de um menino de 10 anos que entrou no mar para tentar salvar os tripulantes, o esforço de pessoas comuns que também se lançaram ao mar colocando em risco suas vidas e o trabalho voluntário de uma mulher na busca e resgate dos destroços e dos corpos.

O primeiro relato é do garoto Walmir Candido Garcia, que junto de seus irmãos Ivan e Galego, identificados como filhos de Caindão e dona Nenêm, proprietários de uma peixada nas proximidades, tentaram salvar os tripulantes do avião. Walmir era gazeteiro do Diário de Natal – jornal local – e teria sido testemunha ocular do acidente, ao ponto de avistar os tripulantes na água, quando decidiu entrar no mar com uma boia, chegando a alcançar o sargento Santana, tentando ajudá-lo a retirar as botas, e ainda avistou os demais, mas sem chance de resgate. Informação extra-oficial é que algum tempo depois, o comando da BANT convidou-o para uma solenidade em reconhecimento ao ato heróico.

Entre os mergulhadores voluntários, destaque para a participação da mergulhadora Dora Furtado que participou ativamente na busca da fuselagem e dos corpos dos oficiais, até então desaparecidos. De acordo com relato da época, ela era mergulhadora do Clube de Pesca Pampano e desceu inúmeras vezes no local do acidente.

Ao todo, foram mais de dez mergulhadores envolvidos, entre eles, os irmãos Floriano e Waldemar Matoso, que ajudaram acompanhados dos outros três familiares. Eles localizararam o bombardeiro o  FAB 5151 sob a água e fixaram as boias de localização. Após diversas operações sem sucesso, a fuselagem ficou no local, contudo, pelo menos um dos motores e parte da cauda foram retirados do mar.