Chá de alecrim ajuda a emagrecer? Veja benefícios e para que serve a bebida

03 de Dezembro 2021 - 03h35
Créditos:

O chá de alecrim virou um aliado de muita gente que busca melhorias no organismo, mas será que é realmente eficaz? Afinal, para que serve o alecrim e seu chá?

"O alecrim é uma planta usada para fins terapêuticos há muito tempo, suas propriedades farmacológicas são o poder antioxidante, antimicrobiano e anti-inflamatório", enumera a nutróloga Nadia Haubert, professora da pós-graduação em nutrologia da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

O chá de alecrim é rico em polifenóis, como ácidos fenólicos, flavonóides e terpenos fenólicos. Mas é preciso usar a parte correta da erva para obter seus benefícios. "As regiões anatômicas do alecrim têm níveis variáveis de conteúdo fenólico total", explica a nutricionista Clarissa Fujiwara, coordenadora de nutrição da Liga de Obesidade Infantil do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro do departamento de Nutrição da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica).

Segundo ela, as folhas contêm a maior concentração de polifenóis em comparação com as regiões do caule, ramo e flor.

Quanto aos benefícios, é preciso cautela. Há muitos estudos em animais e raros estudos em humanos envolvendo o alimento, como aponta Neiva Souza, docente da pós-graduação em fitoterapia e nutrição clínica funcional da VP Centro de Nutrição Funcional e da Unicsul.

Para entender melhor, VivaBem conversou com especialistas para tirar suas principais dúvidas sobre a planta e sua bebida.

Benefícios e para que serve o chá de alecrim

Apesar de não haver evidência científica consistente, a prática clínica reconhece alguns benefícios do alecrim para a digestão.

"Esta é uma erva bem interessante na melhora de alguns sintomas gastrointestinais, principalmente relacionados à digestão. Alguns estudos em modelos animais mostraram melhora na produção de enzimas digestivas, como tripsina, amilase, lipase. A Farmacopeia Brasileira [código oficial farmacêutico do país] cita como indicações do alecrim: auxiliar no alívio de sintomas de má digestão e auxiliar nas desordens espasmódicas leves (como constipação e diarreia)", enumera Souza.

Primeiramente, é importante salientar que nenhum alimento ou bebida isolado emagrece alguém. A perda de peso é resultado de uma série de fatores, como cuidado com alimentação e prática de exercícios físicos.

No caso do chá de alecrim, mais uma vez, os estudos foram feitos apenas em modelos animais, ou seja, não há garantia que atuem da mesma forma em humanos. Nos bichos, os resultados mostraram que o ácido carnósico presente no extrato de alecrim pode modificar beneficamente a composição da microbiota intestinal de ratos com obesidade, segundo Fujiwara.

"Isso foi observado junto com os efeitos de redução do peso corporal nos animais e são sugestivos de um potencial efeito prebiótico do extrato de alecrim frente a alterações metabólicos e obesidade", diz a nutricionista.

Gestantes e lactantes não possuem indicação para o consumo do chá de alecrim, mas muito mais pela falta de evidências quanto à toxicidade e segurança. "É descrito que o consumo frequente e em grande volume de alecrim pode aumentar o risco de abortos espontâneos, hemorragia uterina ou parto prematuro. Considerando que substâncias presentes no alecrim podem passar para o leite materno, também orienta-se que lactantes evitem o consumo", considera Fujiwara.

Na prática, em crianças, indivíduos com desequilíbrios descompensados na pressão arterial, diabetes e em alguns casos de enxaqueca, o alecrim também acaba sendo contraindicado.

"A Farmacopeia Brasileira cita como contraindicações do uso de tintura vegetal ou extrato de alecrim em crianças menores de 12 anos e a utilizar com cautela em indivíduos hipertensos, com diabetes e portadores de adenomas prostáticos. Também pode reduzir o limiar de ação no tratamento de pacientes epilépticos", enumera Souza, que reforça a importância de mais estudos em humanos sobre as contraindicações dessa erva.

Novamente, essa fama vem do conhecimento empírico popular aliado a estudos ainda muito iniciais. "Devido à ação antioxidante, antifúngica e antibacteriana, ao longo da história o alecrim vem sendo utilizado na conservação de alimentos. Mas os resultados acerca das ações antibacterianas são derivados de estudos preliminares, em células e modelos animais, portanto, não há como afirmar que esse efeito ocorre em humanos", considera Souza.

Estudos preliminares mostram que os compostos bioativos do alecrim podem sim ajudar o sistema nervoso central, influenciando no estresse e até ajudando a memória, reduzindo a ansiedade e tendo um efeito neuroprotetor: mas tudo isso em animais.

"Um estudo com estudantes universitários mostrou efeitos na melhora do desempenho da memória e redução de sintomas de depressão e ansiedade. Porém, mais estudos com humanos precisam ser conduzidos para a confirmação desses resultados", reforça Souza.

Fujiwara acrescenta que os flavonoides dessa bebida podem se ligar a receptores do sistema nervoso central. "Um deles é a apigenina, que pode atravessar a barreira hematoencefálica e aumentar o efeito do neurotransmissor gaba em seu receptor", explica a nutricionista.

Mais uma vez, só há evidências científicas dos benefícios do alecrim ao fígado in vitro ou em animais. "Em estudo experimental com ratos com cirrose, observou-se que extratos das folhas podem conferir propriedades hepatoprotetoras por inibir as alterações fisiológicas e histopatológicas. Sugere-se que os efeitos hepatoprotetores desses extratos podem ser atribuídos às suas atividades antioxidantes", resume Fujiwara.

O alecrim é usado como conservante de alimentos justamente por essa atividade antibacteriana. "O efeito antibacteriano do alecrim resulta da ação do ácido rosmarínico, carnosol, ácido carnósico que interagem com a membrana celular das bactérias, causando alterações no transporte de elétrons, de componentes intracelulares e perda de funcionalidade da membrana e sua estrutura", explica a nutricionista.

Essa propriedade é um pouco polêmica, já que na prática clínica algumas pessoas apresentam alterações no sono com o uso do alecrim. "A Farmacopeia Brasileira cita que a utilização do alecrim à noite, antes de dormir, pode alterar o sono. Dessa forma, a utilização para essa finalidade deve ser indicada individualmente e acompanhada pelo nutricionista especialista em fitoterapia", considera Souza.

Estudos em animais já mostraram sua capacidade de reduzir a percepção da dor. "Ratos foram tratados com compostos presentes no alecrim como ácido ursólico e ácido oleanólico, o que proporcionou inibição da dor, possivelmente devido à sua interação com os receptores opióides", considera Fujiwara.

De acordo com o dermatologista Daniel Cassiano, professor de dermatologia do curso de medicina da Universidade São Camilo (SP) e cofundador da Clínica GRU Saúde, "o alecrim tem ação antioxidante e anti-inflamatória, por conta disso, pode ser utilizado como cicatrizante".

Essas propriedades o ajudam também a tratar eczemas, que são inflamações na pele, ajudando a modulá-las. Mas ele não deve ser o único tratamento: na presença desses quadros, é preciso seguir as indicações e ter o acompanhamento de um dermatologista.

Existem alguns usos do chá de alecrim nos cabelos, principalmente para o tratamento da oleosidade dos fios e do couro cabeludo, devido a seu efeito anti-inflamatório, como explica Cassiano. No entanto, ele não trará benefícios ao crescimento dos fios.

"O folículo piloso é uma estrutura que se aprofunda na pele, dificilmente um tópico vai atingir o bulbo capilar e alterar o ciclo do cabelo, promovendo seu crescimento", descreve o especialista.

De uma forma geral, para o preparo, orienta-se adicionar o equivalente a cerca de 1 colher (de sopa) de ramos de alecrim (folhas e hastes) em uma xícara (de chá) de água própria para consumo e quente, e deixar por 5 a 10 minutos. "Quanto maior o tempo de infusão, maior a extração das propriedades organolépticas como sabor e aroma e compostos bioativos", diz Fujiwara.

Ela ainda reforça a importância de consumir chás sem adoçar, evitando tanto açúcar quanto adoçante.

A experiência popular mostra que o consumo de chá de alecrim à noite pode afetar o sono, mas não há grande literatura científica sobre o melhor horário para o consumo deste chá.

De acordo com a jardinista e arquiteta Thalita Cunha, do perfil Nossa Amora (@nossa.amora), "o alecrim gosta de locais bem ventilados, solos porosos e que secam rapidamente. Ele curte muito sol, mas não tolera altas temperaturas, então é preferível cultivá-lo em locais ou épocas de temperaturas mais amenas".

Plante-o usando substrato misturado com fibra de coco sem tanino e prefira adubo bokashi para a montagem do seu vaso. Quanto às regas, ele não é tão exigente, portanto coloque água apenas quando notar o solo mais seco. "Se regar demais ele não vai gostar e suas folhas vão ficar caídas", explica a especialista.

Se você tiver sol abundante e um local bem ventilado, dá sim. Quanto mais sol ele receber, mais aromático será.

Viva Bem/UOL