“Sou trabalhador”: vídeo mostra jovem implorando ajuda após tiro de PM

24 de Maio 2025 - 22h10
Créditos: Reprodução

Uma gravação de câmera corporal obtida durante a investigação da morte de Gabriel Ferreira Messias da Silva, de 19 anos, morto por um policial militar em novembro de 2024, na zona leste de São Paulo, mostra o jovem pedindo ajuda após ser baleado. “Eu sou trabalhador, senhor, pra que isso comigo, meu Deus? Me ajuda, senhor, por favor”, implora Gabriel no vídeo, em um dos momentos mais dramáticos do caso.

As imagens também registram o momento em que o soldado Ailton Severo do Nascimento questiona o jovem sobre a origem da moto. “Não é não, senhor”, responde Gabriel, negando que fosse roubada. Em seguida, o policial repete “Fica quieto” por quatro vezes enquanto o jovem continua clamando por socorro.

A gravação mostra ainda o momento em que o soldado Ailton se abaixa ao lado da moto, como se colocasse ou pegasse algo. Em seguida, ele se afasta e outro policial, o sargento Ivo Florentino dos Santos, aparece empurrando uma arma com o pé para debaixo da motocicleta, fato registrado também pelas câmeras dos policiais Gilbert Gomes e do próprio Ivo.

Segundo relatório da Defensoria Pública de São Paulo, os agentes plantaram uma arma na cena do crime para justificar o disparo e simular legítima defesa. A defensora Andrea Castilho afirma no documento que "Gabriel estava desarmado e nada indica que tenha apresentado qualquer perigo, real ou imaginário, aos policiais militares que o abordaram”.

A versão oficial e as contradições
No boletim de ocorrência, os PMs alegam que Gabriel pilotava uma moto sem placa, teria fugido ao cruzar com a viatura e sacado uma arma após cair. Nesse momento, o sargento Ivo, de dentro do veículo, teria feito o disparo. Essa versão, porém, é desmentida pelas imagens.

De acordo com o relatório, não havia nenhuma arma visível ao lado da moto ou de Gabriel quando os agentes se aproximaram. As imagens mostram que a arma foi colocada posteriormente, e há registros de áudio do objeto sendo arrastado pelo chão.

Consequências e investigações
Diante dos indícios, o Ministério Público de São Paulo solicitou em abril o afastamento cautelar dos policiais Ivo e Ailton das funções operacionais e pediu que o caso seja investigado pela Corregedoria da Polícia Militar.

A Secretaria da Segurança Pública confirmou que os policiais estão afastados e informou que o Inquérito Policial Militar (IPM) já foi concluído e encaminhado à Justiça. Em paralelo, o caso segue sendo investigado em sigilo pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil.

Procurado pela reportagem do Metrópoles, o soldado Ailton não foi localizado. Já o sargento Ivo se limitou a orientar o contato com a assessoria da Polícia Militar.