Nossa (des)inteligência

18 de Março 2024 - 15h51
Créditos: Montagem Internet

O Brasil vive uma sina, não uma que nos tenha sido imposta por Deus ou pelos deuses, mas uma construída e adubada por nós diariamente e ao longo dos anos de nossa existência como nação.

Tivemos há pouco um Presidente da República que desdenhava do conhecimento científico (frágil, mas é o que, com toda fragilidade, resolve problemas reais de nossa vida) e, agora, temos um que ultraja o conhecimento histórico.

Um flertava com ditadores, o outro afaga ditadores e terroristas. Um tosco nas ideias e chulo nas palavras, o outro arcaico nas ideias e irresponsável nas palavras.

O Brasil precisa mesmo oscilar entre duas vergonhas?

A Folha de São Paulo publicou matéria, hoje, na qual registra que metade dos alunos brasileiros não termina o ensino fundamental na idade adequada (https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2024/03/quase-metade-dos-alunos-brasileiros-nao-termina-ensino-fundamental-na-idade-certa.shtml). Isso explica um pouco sobre a nossa sina, mas há algo mais profundo, histórico, que toma a alma do brasileiro, o amor doentio pelo paternalismo desmedido e por homens providenciais.

É no mínimo interessante que a militância de esforce para manter as discussões exclusivamente em torno das idiotices de Lula sobre um conflito que ocorre há milhares de quilômetros e em nada diz respeito ao Brasil. Isso é importante para apagar e ignorar que em entrevista Lula declarou, com orgulho, sua completa ignorância sobre o que acontece em um país vizinho, em uma situação de tragédia humanitária que o mundo ficaria feliz em ter o Brasil como mediador.

A Venezuela tem hoje 1/5 da sua população, algo em torno de 7 milhões de pessoas, vivendo como refugiados em países vizinhos (incluindo mais de 300 mil no Brasil). Sobre este assunto, que diz respeito ao Brasil, um país que ocupa metade do continente sul-americano, Lula se cala. Sobre crises históricas do outro lado do planeta, ele opina com gosto, como se o Brasil tivesse peso no tabuleiro político mundial, ainda mais em área conflagradas há décadas e mesmo séculos.

É um retrato claro do próprio Lula e da sua militância. Têm fortes opiniões sobre como mudar o mundo, mas não sabem ou fingem não saber o que ocorre do outro lado do muro, na casa do vizinho incômodo.

E isso, claro, ocorre porque se tiver de agir e colocar a mão na massa para resolver algo além de bravatas, ficará evidente que Lula, parte de seus assessores e de seus seguidores não têm a capacidade política e diplomática que alardeiam.

Lula lembrou da guerra na Ucrânia, mas lamentou só a alta do preço dos alimentos no mundo. A morte de ucranianos – mulheres, crianças, pessoas idosas – não fere a nossa humanidade? Sério: como se pode achar que Netanyahu é um criminoso de guerra, e é, mas Putin não?

Netanyahu e Putin são autoritários e criminosos. O Brasil, porém, pelos interesses que têm, não deve se envolver em conflitos, nas situações em que se encontram, nos quais não tem peso para decidir nada, e só tem a perder caso se envolva. O pragmatismo é o melhor caminho, o que não significa simpatia. Não é o caso da Venezuela do podre Maduro.