Varejistas avisam Bolsonaro de que vão demitir se as lojas não forem reabertas

29 de Março 2020 - 04h10
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Grandes empresas do varejo, um dos setores mais afetados pela onda do coronavírus, têm avisado ao presidente Jair Bolsonaro que vão demitir, em média, até um terço de seus funcionários caso a pressão para reabrir as lojas não surta efeito até meados de abril.

Atualmente, o comércio emprega 23,5% dos trabalhadores com carteira assinada. São 9,1 milhões de pessoas. As principais redes respondem por cerca de 20% desses postos —1,8 milhão de trabalhadores.

As demissões englobariam, portanto, cerca de 600 mil empregados, segundo executivos que participaram das discussões no setor. Para ter uma dimensão da destruição de vagas, em todo o ano passado foram criados 644 mil postos formais de trabalho no país, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Embora oficialmente admitam estar empenhados em preservar empregos e seguir as recomendações de confinamento definidas pelas autoridades de saúde, empresários têm mantido contato com Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes (Economia) para convencê-los a implementar um modelo similar ao da Coreia do Sul.

O país asiático liberou parte da população para o trabalho depois da realização maciça de testes para garantir que não haveria uma nova fase de contaminação.

Liderados por Flávio Rocha, dono da Riachuelo, e Luiza Trajano, da Magazine Luiza, os grandes comerciantes estão preocupados com os efeitos de um isolamento mais prolongado na cadeia produtiva.

“Uma empresa do porte da nossa tem estrutura de capital e caixa para atravessar este momento sem precisar demitir”, disse à Folha Rocha, dono da Riachuelo.

“Estamos empenhados em seguir as orientações, mas aguardamos uma retomada o mais breve possível.”

Segundo o empresário, sua rede enfrenta uma redução de mais de 90% nas vendas.

“Demitir será o último recurso”, afirmou.

Rocha defende que o país adote o modelo implantado por Andrew Cuomo, no estado americano de Nova York. O governador decidiu fazer testes maciços na população para encerrar o isolamento.

No entanto, os empresários brasileiros a favor da reabertura do comércio, ainda que parcialmente, não apresentaram propostas de como arcar com os custos dos testes para a população.

Não se sabe se o governo federal terá recursos para, ao menos, fazer testes na população economicamente ativa, algo que, para o empresariado, poderia ser mais vantajoso do que arcar com os custos de uma recessão.

Com informações da Folha de S. Paulo