Saiba porque tinha americanos em Natal antes da guerra

20 de Maio 2023 - 21h33
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Um fato que merece explicação – por ser pouco explorado e falado – diz respeito a presença de militares dos Estados Unidos em Natal antes da entrada do Brasil na segunda guerra mundial. Para ficar mais fácil esse detalhamento, se faz necessário a construção de uma linha temporal a partir de 1941.

Em março daquele ano, já é possível identifcar norte-americanos em solo potiguar. Em sua maioria se tratava de funcionários da Pan Am, uma empresa de aviação civil que operava  em Parnamirim e nas margens do rio Potengi, atualmente conhecido como Rampa. A Pan Am havia chegado a Natal na década de 1930, montando postos de embarque ao longo do rio, passando pelo Paço da Pátria até chegar à praia da Limpa, próximo das instalações alemães do Sindicato Condor – Lufthansa.

Técnicos americanos em Parnamirim Field (Foto: Getty Image)

Contudo, o desenrolar da guerra na Europa, a partir de 1939, e nas colônias francesas, alemães, italianas e, principalmente, nas inglesas, obrigou a participação indireta dos EUA, mais precisamente, da indústria, sobretudo bélica. Além de fornecer equipamentos aos aliados britânicos, os “yankees” também vendiam armas para os russos e chineses. E para entregar o material era necessário uma rota segura, tanto pelo clima como pelo risco provocado com os ataques de submarinos aos comboios marítimos. Nesse quesito surgia a importância de Natal, um ponto já conhecido dos pioneiros da aviação como o mais próximo pelo Atlântico Sul, entre a América e a África, consequentemente, uma encruzilhada entre as rotas do “Novo Mundo” e o “Antigo”.

Como o Brasil detinha a soberania nacional e se manteve neutro na guerra até 1942, antes desse período, os americanos tiveram que encontrar uma forma de driblar os olhares dos órgãos locais e ainda dos espiões inimigos. A solução veio por meio de um acordo que permitiu a instalação de aeroportos no território brasileiro e em troca, o Governo de Getúlio Vargas teve acesso a recursos e meios para implantar a siderúrgica de Volta Redonda, denominada posteriormente de Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a primeira do país.

Em Natal, a principal beneficiária desse acordo foi a Pan Am (PAA) e sua subsidiária brasileira, a Panair do Brasil. O governo norte-americano institui um programa internacional que serviria de apoio à empresa atuando em outros países, entre eles o Brasil. Tal iniciativa recebe o nome de Airport Development Program (ADP), com recursos e obras subordinadas diretamente ao Corpo de Engenharia do Exército dos Estados Unidos, e seria responsável pela construção de uma rede de bases no Norte e Nordeste brasileiro.

Com o dinheiro, chegaram também os técnicos para trabalharem no projeto. Entretanto, esses homens chegaram disfarçados de civis, quando na vedade eram militares disfarçados. E por que isso? O Exército dos EUA precisava de uma rota segura para fornecer equipamentos militares adquiridos pelos aliados, principalmente aviões. Sem estar em guerra, a grande movimentação de americanos na cidade chamou a atenção dos alemães do Sindicato Condor-Lufthansa e italianos da LATI, que acompanhavam de perto os voos, maquinário chegando, mais pessoas sendo contratadas e a grandiosidade do projeto de Parnamirim e da Rampa.

Vale explicar que até o rompimento das relações com o Eixo, por parte do Brasil, esses estrangeiros alemães, italianos e japonses mantinham vida normal em Natal. Muitos com comércios atuantes, relações pessoais com autoridade locais e propriedades privsdas. Até que veio Pearl Harbor.

 No dia 7 de dezembro de 1941, os EUA estavam entrando na guerra, após o ataque no arquipélago de Pearl Harbor, no Havaí, pelos japoneses. Enquanto que o Brasil permanecia neutro até janeiro de 1942, quando romperia definitiamente relações com a Alemanha e Itália, declarando guerra apenas em agosto desse ano.

Nesse contexto, antes de 1942 a presença dos militares em Natal se explicava por dois motivos. Inicialmente pela construção da base de Parnamirim Field, por meio do projeto de infraestrutura da Pan Am, que utilizava engenheiros militares disfarçados de civis, pois estavam a serviço da Força Aérea do Exército dos EUA, ajudando no transporte de aeronaves para países aliados, em especial Inglaterra.

Outro motivo, era o acordo diplomático internacional, formatado na Conferência Interamericana de Havana (1940), que deliberou o documento “Assistência Recíproca e Cooperação para a Defesa das Nações Americanas”, no qual contava que: "um atentado de um Estado não americano contra a integridade ou a inviolabilidade do território, soberania ou independência política de um Estado americano seria considerado um ato de agressão contra todos”. Com isso, a Marinha dos Estados Unidos providenciou meios aéreos para patrulhar o Atlântico e escoltar os comboios marítimos.

Esse acordo foi ratificado com a criação da Junta Interamericana de Defesa (JID), na Conferência Interamericana do Rio de Janeiro (Março, 1942).