Presidente da Petrobras prioriza seu reduto eleitoral em investimentos da estatal

18 de julho 2023 - 15h25
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A Petrobras, sob o comando de Jean Paul Prates, passou a contemplar nos principais projetos e ações anunciados pela nova gestão o Rio Grande do Norte, reduto do ex-senador petista a quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entregou a presidência da estatal. O Estado é um dos beneficiados pela ampliação do acordo bilionário para projetos de energia eólica no mar, estimado em US$ 70 bilhões.

O acordo firmado em 2018 previa estudos para as costas litorâneas de Rio de Janeiro e Espírito Santo. A ampliação anunciada em março contempla, além do Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Rio Grande do Sul. O plano é tratado por Prates como prioritário, apesar de ressalvas públicas do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Procurado pelo Estadão, Prates respondeu via assessoria da Petrobras. A estatal afirmou que as escolhas são “estritamente técnicas” e se devem às condições dos recursos naturais que o Rio Grande do Norte oferece.

Na presidência da Petrobras desde o fim de janeiro, Prates fez outro importante aceno ao seu Estado, em fevereiro: fechou contrato de R$ 1 bilhão para oito anos de fornecimento de gás natural para o Rio Grande do Norte, por meio da estatal Potigás, controlada pelo grupo político dele. 

Em outra ação para atender demandas do seu reduto, o presidente da Petrobras agiu para manter o contingente da empresa no Nordeste após concluída, no início do ano, a venda do Polo Potiguar para a 3R Petroleum, negociação realizada no governo anterior.

A venda foi concluída em junho. Em reação, Jean Paul Prates acolheu parte das reivindicações sindicais e se comprometeu a “revitalizar fortemente” a empresa no Estado, além de buscar soluções para alocar empregados da região abrindo outras vagas para acomodar trabalhadores.

“Já podemos assegurar que parte do nosso contingente local não vai ter nenhum impacto, permanecendo no Rio Grande do Norte. Estamos prevendo a abertura de vagas administrativas em Natal e em vagas offshore para quem quiser trabalhar embarcado”, disse, em comunicado.

Os estudos sobre viabilidade de parques eólicos no mar, por meio de parceria com a norueguesa Equinor, são tratados como prioridades por Jean Paul Prates, apesar de ponderações públicas da Aneel. O diretor-geral da Aneel, Sandoval de Araújo Feitosa Neto, disse em uma audiência pública no Senado, em maio, que a agência não tem capacidade técnica para gerenciar contratos em áreas marítimas.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já criticou os planos de Jean Paul para eólicas em alto mar. Para o ministro, a Petrobras deveria se dedicar neste momento a outras prioridades, como à recompra de refinarias vendidas no governo Bolsonaro. Em uma entrevista ao Valor Econômico, Silveira avaliou que a estatal só deveria falar em offshore depois de garantir uma autossuficiência em combustível, modernizar o parque de refino e discutir as recompras.

Em nota, a Petrobras afirmou que todas as decisões de investimentos da empresa são “estritamente técnicas e todos os projetos e contratos apresentam viabilidade técnica e econômica para serem aprovados, conforme rigoroso processo de governança”. Sobre os investimentos no Rio Grande do Norte citados pela reportagem, a companhia afirmou que atua naquele Estado desde os anos 1950 em razão das condições dos recursos naturais que ele oferece.

Ainda segundo a empresa, o potencial do Rio Grande do Norte com energias renováveis faz o Estado e a região Nordeste concentrarem investimentos no setor.

Com informações de Estadão