Por que as vacinas são menos eficazes em idosos? 3ª dose pode ajudá-los?

20 de Agosto 2021 - 03h29
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morte de idosos vacinados colocou a 3ª dose do imunizante contra covid-19 em discussão. O Ministério da Saúde informou, nesta quarta-feira (18), que já avalia a aplicação de uma dose de reforço nos idosos e nos profissionais da saúde. Alguns países também já estão se movimentando sobre a nova dose da vacina —caso dos Estados Unidos.

Mas a dúvida que fica é: por que as vacinas, incluindo as de covid-19, mas não só elas, são menos eficazes nos idosos? No caso da CoronaVac, que foi amplamente aplicada nos mais velhos, um estudo feito em São Paulo, de janeiro a abril de 2021, mostrou que a vacina tem menor efetividade entre idosos de mais de 80 anos em relação aos adultos —28% para casos assintomáticos, 43,4% contra hospitalizações e 49,9% para mortes.

Mas a resposta pelo qual motivo isso acontece é complexa e envolve vários fatores fisiológicos. O primeiro, e talvez mais relevante, é a imunossenescência, o envelhecimento natural do sistema imunológico, responsável por nos proteger de agentes infecciosos.

"Assim como envelhece a pele, o cabelo, o fígado, rim, cérebro, o sistema imunológico, responsável pelas células de defesa, também passa por isso. Por isso que idosos têm mais tendência a morrer de doenças infectocontagiosas", explica a geriatra Priscilla Mussi, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Isso não vale apenas para covid-19, mas, sim, para qualquer doença que tende a ser mais agressiva na população idosa, como gripe e pneumonia. "A imunossenescência faz as pessoas ficarem mais sensíveis a qualquer infecção. O avô que mora com o neto, por exemplo, pode pegar gripe dele e agravar para uma pneumonia. A gente precisa ter sempre esse receio e preocupação com os idosos", diz a geriatra.

Esse ponto também explica, por exemplo, por que mesmo vacinados, alguns idosos morrem pela covid-19. Nenhuma vacina, seja a CoronaVac, Pfizer ou da AstraZeneca, impede que as pessoas sejam infectadas. O objetivo delas é impedir que a pessoa tenha um quadro grave da doença e, consequentemente, morra.

Um outro ponto importante é que existem alterações consideráveis no funcionamento de algumas células, como nos linfócitos (responsáveis pela defesa do corpo), segundo Sergio Surugi Siqueira, farmacêutico bioquímico, especialista em patologia geral e imunologia clínica e professor da farmácia da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

"São fatores que vão além do envelhecimento. Há uma alteração no funcionamento e na quantidade dos linfócitos de pessoas mais velhas. Por isso, eles respondem com menos eficiência a uma vacina, por exemplo", diz.

Para ficar mais claro, o linfócito T ajuda o linfócito B a produzir os anticorpos contra a doença em questão —objeto das vacinas. E essas células vão diminuindo em quantidade e em sua função em pessoas com idades mais avançadas.

Há ainda outro ponto fundamental nessa questão: a resposta imune é algo muito individual. "A resposta imunológica é um fenômeno individual. Existem idosos que têm uma imunossenescência mais acentuada e há idosos que apresentam uma imunossenescência menos acentuada e que, por isso, tendem a responder melhor às vacinas", explica Siqueira.

CoronaVac é eficaz ao que se propõe

Esses números da CoronaVac, por exemplo, têm chamado atenção, mas isso não invalida seu uso. Pelo contrário, a vacina é considerada eficaz ao que se propõe, basta ver o caso na cidade de Serrana (SP), que teve redução de 95% das mortes.

Lembre-se que qualquer proteção é melhor do que nada, sobretudo em um momento de pandemia. "Interessante é que, antes, ninguém questionava [os números] das outras vacinas, mas esse olhar para a covid chamou mais atenção", conta Ana Karolina Barreto Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).

De acordo com a imunologista, há uma diferença entre eficácia e efetividade das vacinas que precisa ficar clara. "A eficácia é avaliada na fase 3 dos estudos, que mede a quantidade de anticorpos e células de defesa após a vacina. É se ela foi eficaz, em porcentagem, para criar anticorpos que protejam contra o agente", explica.

Já a efetividade, conforme Marinho esclarece, é o que mais interessa, já que é o momento que estamos vivendo agora, de vida real. "É para ver se a vacina, em determinada população, vai diminuir adoecimento, hospitalizados e mortes. São os resultados a longo prazo. Isso é muito importante a nível de saúde pública", diz.

A imunologista explica ainda que todas as vacinas disponíveis contra covid, no momento, são eficazes e efetivas ao que se propõe. "A gente, claramente, já viu isso —há redução nos números de mortos e internados." Mas o que pode acontecer, de acordo com ela, é que a flexibilização total em alguns estados faça esses números aumentarem progressivamente.

O que pode ser feito para os idosos? 3ª dose? Dose de reforço?

Há muitas discussões sobre o tema. De acordo com os especialistas, existem estratégias que podem ajudar, sim, a melhorar a proteção dos idosos. Uma delas e que, talvez, esteja mais em discussão, é a 3ª dose da vacina contra covid.

"Essa terceira dose poderia ser, por exemplo, de outro fabricante, com outra plataforma, para melhorar a resposta imunológica que já foi iniciada pelas primeiras doses da outra vacina", diz a imunologista da Asbai.

Mas há uma diferença entre a dose de reforço que é indicada quando as duas doses, inicialmente, conseguiram ter boas respostas no sistema imunológico, mas por questões epidemiológicas, é possível dar uma reforçada com essa nova dose.

"Com uma terceira dose, a gente está querendo dizer que aquela população alvo, de repente, não conseguiu atingir os níveis desejáveis de eficácia", explica Barretos.

Mais vacinados e hábitos saudáveis

Além de novas estratégias de vacinação que já estão sendo avaliadas pelos órgãos, algo que auxilia na resposta imune dos idosos —e também de pessoas de outras faixas etárias— é ter hábitos saudáveis: dormir bem, alimentação balanceada e fazer atividades físicas.

Também é essencial que os adolescentes, jovens e adultos, principalmente os que convivem com idosos, tomem a vacina. Isso é também uma forma de protegê-los da covid-19. Lembre-se que vacina não é uma decisão individual, é um pacto coletivo.

Com informações de UOL