
Com a suspensão de shows, espetáculos, congressos, eventos, feiras de turismo e negócios cancelados, e com a determinação de distanciamento social em razão do novo coronavirus - COVID -19, o setor de eventos tem enfrentado a pior das crises. Cristina Lira, ouviu dois players do setor de eventos, para falar do impacto do coronavírus no Mercado de Eventos.
Eliezer Andrade, diretor da Msom- locadora de equipamentos e assessoria para eventos.
"Queremos Voltar Mais fortes"
Eventos, é uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil, representando 13% do PIB e movimentando cerca de R$ 936 bilhões na economia anualmente, além de gerar cerca de 25 milhões de empregos diretos e indiretos.
A UFI, (The Global Association of the Exhibition Industry), lançou um comunicado dizendo que até o dia 10 de março mais de 500 feiras de negócios tinham sido canceladas ou adiadas no mundo, resultando numa perda econômica de aproximadamente 16 bilhões de dólares.
Evento na sua gênese, vive da "aglomeração" de pessoas, é um vetor a promover o encontro, a soma de energias e informações que movimentam o mercado, as relações de trabalho e abre novas frentes de lançamento de produtos, avanço em pesquisas, inovação e investimentos em novas tecnologias.
A ordem de evitar aglomeração, é uma flecha direto no coração do setor que sobrevive equilibrando em corda bamba em virtude de sua própria natureza sazonal e efeito do alto risco mediante variáveis inúmeras para o alcance do sucesso.
Os vários segmentos da atividade como shows, entretenimento, congressos, turismo, esporte e até gastronomia, é um mercado que inclui além dos técnicos e locadoras de equipamentos de som, luz, etc., toda a cadeia do turismo, operadoras, agências de viagem, companhias aéreas, aeroportos, profissionais das mais variadas áreas correlatas como carregadores, transporte, profissionais de limpeza, segurança, produtores culturais, designers, arquitetos, etc. gente das mais variadas profissões que atua de forma permanente ou temporária em eventos. É uma verdadeira indústria. Muitas empresas são enxutas, com poucos colaboradores fixos, mas em geral movimentam pequeno exército de trabalhadores terceirizados a cada evento.
Três meses de impacto direto e outros seis de recuperação— para que a situação se estabilize.
Inicialmente haverá necessidade de linhas de crédito, possibilitando que as empresas que ainda tiverem chance respirem por aparelhos, até sua recuperação- sem dúvidas na maioria dos casos haverá sequelas irreparáveis. Muitos profissionais importantes e chaves serão perdidos para outros setores, e será preciso uma reacomodação de estratégias, formação de novos profissionais, e readequação de toda a operação do sistema.
As linhas de crédito são importantes para salvar empregos, mas o planejamento tem de focar a retomada.
Somos um dos setores mais impactados, mas também podemos ser aquele que mais rápido sairá dessa situação, comprovadamente não há nada mais efetivo para alavancar vendas do que participar de eventos e tamanha retração não poderá durar muito tempo.
A agenda do segundo semestre de 2020 ficará congestionada pela procura de datas estratégicas, será pouco para todos os eventos do ano, a estratégia terá que prevalecer, estabelecer prioridades em função do bem comum e dentro de uma visão mais global para o mercado.
Hoje só podemos falar de especulações, não sabemos o que pode acontecer amanhã e muito menos quando tudo isso acabará. Vivemos num Mundo que se comprova cada vez mais global. O mercado vinha numa ascendência de aquecimento e pegou todo mundo de surpresa, arriscando mais e investindo no futuro promissor. Haverá sem dúvida um encolhimento no setor, numa estimativa de 5 anos para sua total recuperação em função de muitas empresas que hoje estão baixando suas portas e poderão não reabrí-las. As empresas de médio e pequeno porte em sua maioria tende a encolher ainda mais. Haverá mais mercado informal e temporário. Um mercado extremamente flutuante. Muitos profissionais já treinados serão colocados à disposição no mercado, isso pode gerar a migração para outros setores ou esses criarão negócio formais ou informais.
Uma corrente é tão forte como é forte seu elo mais frágil.
Está aberta a temporada do bom senso e da responsabilidade social e profissional- pois afinal a cadeia precisa de todos para subsistir. O setor precisa se unir, entender a importância de boas parcerias e da conexão de ideias e planejamento, caso contrário, as pontas se enfraquecerão e darão espaço para outros nichos ou outros ambientes mais favoráveis. As boas relações humanas são fundamentais, sem abrir mão da entrega de qualidade e dos ajustes necessários. A palavra aqui é competência com flexibilidade.
O mercado de eventos depende de pessoas, grandes profissionais cansados de tamanha oscilação já seguiram para outras vidas profissionais, esse momento de crise será uma deixa para muitos. Para que o mercado não fique menos inteligente é importante uma grande mudança de paradigmas, um olhar que não seja puramente para si, para seus negócios, mas sim para o mercado como um todo. Importante identificar as propostas promissoras, quem está no ramo por vocação e tem experiência para superar os maiores desafios- esses profissionais e empresas deverão receber prioridade - é uma questão de sobrevivência.
Apesar do cenário negativo, essa pode ser uma grande oportunidade de comprovarmos o valor do setor. Até então vínhamos nos dividindo dentro das especialidades com a tendência de enfatizarmos o lado operacional individual, mas nesses momentos precisamos nos comprovar estratégicos, não sobrecarregar parceiros, sermos solidários e pensar em termos de coletividade.
Chegou a hora de compreender eventos como uma ciência e não apenas uma agenda estafante de tarefas a serem cumpridas e resultados a serem alcançados. Pensamos que "estamos no Turismo" quando na minha opinião somos fomentadores desse setor, locomotivas - eventos desenvolvem países, estados, cidades e regiões, geram mercados, oportunidades, emprego e renda.
É hora de refletir e dialogar. Pensar de forma corporativa, finalizou Eliezer Andrade.
Já para o executivo da Trading Montadora, Leonardo Nunes, " o impacto do coronavirus no mercado de eventos foi um duro golpe e que tivemos pouco tempo para negociar com os clientes a não cancelarem e sim adiarem para novas datas. Essa indecisão quanto ao retorno e sem uma clareza do direcionamento do poder público quanto as ações voltadas ao nosso segmento. Muito tenso, mas servirá para um grande aprendizado e muitas reflexões sobre o futuro dos eventos no mundo".