'Nova Terra': pesquisadores da UFRN integram grupo responsável por descoberta histórica de 'planeta raro e único'

26 de Dezembro 2021 - 07h57
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Um time de astrônomos descobriu um exoplaneta com a massa da Terra em um sistema estelar distante. Designado de KMT-2020-BLG-0414Lb, o novo planeta extrassolar foi detectado através da técnica de Microlentes Gravitacionais. Entre os pesquisadores envolvidos no achado, estão Leandro de Almeida, do Laboratório Nacional de Astrofísica – egresso do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGFIS) do Departamento de Física Teórica e Experimental da (DFTE/UFRN) – e o pesquisador José Dias do Nascimento Jr., professor associado do DFTE/UFRN. A descoberta foi publicada na revista Research in Astronomy and Astrophysics.

O KMT-2020-BLG-0414Lb está 224,4 milhões de quilômetros distante de sua estrela hospedeira, ou uma vez e meia a distância Terra-Sol, como calculam os astrofísicos. Apesar de parecer um exagero de distância, para a Física ela é tão pequena, considerando a escala do universo, que são pouquíssimos os exoplanetas encontrados nessas condições. 

“Sendo a distância média entre a Terra e o Sol de aproximadamente 149.600.000 km, ou seja uma Unidade Astronômica (AU), o planeta descoberto está somente 1,5 vez esta distância. É um planeta raro e único na relação entre o tamanho de sua órbita e sua massa. Atingimos com ele a linha do gelo, que é a distância específica onde a atmosfera é fria o suficiente para compostos voláteis como água, amônia, metano, dióxido de carbono e monóxido de carbono condensado em grãos de gelo sólidos. Este é um passo fundamental na formação da sopa cósmica onde a vida foi cozinhada”, explica José Dias.

De acordo com o pesquisador, é uma época de magníficos avanços e descobertas astronômicas.  A diminuição das massas dos planetas descobertos em órbitas de 1 AU, aproximação dos parâmetros termodinâmicos com aqueles encontrados na Terra, tem gerado múltiplas repercussões na sociedade, na cultura e na forma como nos vemos em termos de civilização cósmica. “Este planeta contribui de forma fundamental como peça no quebra-cabeça antrópico, onde nossas observações do Universo são condicionadas pela própria exigência de formação, manutenção e existência da vida senciente. Nosso planeta, possui uma cobertura oceânica maior que 70% e isto parece parte de um critério importante na seleção natural antrópica”, reforça Dias.  

Ainda segundo o professor, seria ingênuo pensar que todos planetas habitáveis têm uma chance igual para hospedar vida.  “Nossa geração de indivíduos está vendo o nascer da socio-exoplanetologia, nas quais são pensadas e questionadas as possibilidades da existência de civilizações extraterrestres, sua deteção, especulações sobre o balanço entre água e terra como um parâmetro sine qua non para a vida e os impactos destes avanços científicos em como nos vemos e exercemos nossas relações interpessoais em  comunidades e grupos na sociedade”, complementa Dias.