Lula evita condenar Maduro e tensão ofusca Cúpula do Mercosul

08 de Dezembro 2023 - 03h46
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A 63ª Cúpula do Mercosul terminou na 5ª feira (7.dez.2023) com o aumento da preocupação dos países do bloco diante da iniciativa da Venezuela de querer anexar parte do território da Guiana. No entanto, não houve críticas diretas ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

O encontro foi realizado no Museu do Amanhã, no Rio. O Brasil passou o comando do bloco ao Paraguai. O mandato é de 6 meses. O Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Bolívia assinou nesta edição do encontro o protocolo de adesão ao bloco depois de 8 anos de negociações. O país deverá ser integrado em até 30 dias. O comando do grupo é rotativo e as trocas acontecem a cada 6 meses.

Na declaração final, os países mencionaram a necessidade de dinamizar as relações para dirimir dificuldades ainda encontradas para o comércio e a integração regional. Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participaram do encontro os chefes de Estado:

  • Alberto Fernández, da Argentina;
  • Luis Alberto Lacalle Pou, do Uruguai;
  • Santiago Peña, do Paraguai;
  • Luis Arce, da Bolívia.

Em seu discurso de abertura, Lula disse que a América do Sul não quer guerra, que o Mercosul não pode ficar “alheio à questão” e fez um apelo para que os demais países do bloco assinassem uma declaração conjunta com o pedido de diálogo e paz no continente.

Apesar do apelo, Lula evitou condenar a atitude beligerante de Maduro, que já afirmou que mais da metade do território da Guiana será anexado ao seu país. O líder venezuelano também apresentou um novo mapa com a área que hoje é da nação vizinha.

O presidente brasileiro sugeriu ainda que a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) sejam as instâncias diplomáticas usadas para intermediar a tensão entre os 2 países e que o Brasil poderia sediar reuniões.

Ao convocar outros países da região para mediar a tensão no continente, Lula tenta diluir a pressão que recai sobre si para mediar a relação entre os 2 países. Desde que assumiu a Presidência pela 3ª vez, Lula estava em um processo de reaproximação com Caracas.

Ao opinar sobre outros conflitos em regiões mais longínquas, o petista desagradou a comunidade internacional. Disse num determinado momento que Rússia e Ucrânia tinham responsabilidades equivalentes, quando sabe-se que não era essa a situação. Depois, no final de 2023, o presidente brasileiro equiparou as ações de Israel aos atos praticados pelo Hamas. Agora, mais uma vez, o presidente quer se equilibrar entre polos de disputas.

Ao final da cúpula, o Mercosul divulgou nota conjunta em que os países manifestaram “profunda preocupação” com a escalada das tensões na região. O comunicado cita por duas vezes a expressão “ações unilaterais”, mas não as atribui diretamente à Venezuela. Diz apenas que “devem ser evitadas”. O texto foi assinado também por Chile, Colômbia, Equador e Peru. A Bolívia, aliada histórica da Venezuela, não assinou o documento.

Ao final do encontro, Lula não quis responder a questionamentos de jornalistas sobre o assunto. Disse que poderia falar com a imprensa nesta 6ª feira (8.dez.2023).

Até agora, o presidente optou pela omissão: nunca quis dizer quem eram as partes responsáveis pelos conflitos na Europa e no Oriente Médio. Essas elipses do petista ficam mais difíceis quando há um risco de beligerância num país fronteiriço ao Brasil: a Venezuela tentando anexar parte da Guiana.

Com informações do Poder360