Jornal Washington Post diz que o Brasil aponta o caminho para sair da inflação

16 de Junho 2022 - 12h54
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Um dos mais importantes jornais dos Estados Unidos, o Washington Post fez uma matéria que aponta o Brasil como pioneiro no combate a inflação. De acordo com o jornal, o Brasil nem sempre teve a política comercial mais aberta, mas vem afrouxando tarifas enquanto o resto do mundo restringe importações. 

"É uma reiravolta incrível", afirma o jornal sobre a política comercial brasileira.

Veja trecho da matéria:

Já tentou procurar dicas sobre como tirar o mundo da espiral da inflação? A situação fica pior quando olhamos para um país em que a moeda vale menos de um trilionésimo de seu valor do início dos anos 1980.

Numa época em que a maior parte do mundo está amargando problemas nas cadeias de suprimento e o aumento dos preços da energia por meio da aplicação de tarifas de importação, o Brasil está se abrindo ao comércio.

É uma reviravolta incrível. Nos anos após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi o berço da industrialização substitutiva das importações, uma política de desenvolvimento populista na América Latina que asfixiou as importações para incentivar a manufatura doméstica. Esse formato perdeu espaço para o modelo orientado à exportação seguido pelas economias dos tigres asiáticos e desde então foi abandonado. Ainda assim, as tarifas brasileiras em uma base ponderada pelo comércio continuam sendo as mais altas do G-20 (que reúne 20 das maiores economias do mundo), depois da Argentina.

Isso está começando a mudar. Com a inflação em 12,1% em 12 meses (até abril), o nível mais alto desde 2003, o país está correndo para baixar o custo dos bens importados. Os impostos sobre cerca de 6.195 produtos seriam temporariamente reduzidos em 10%, conforme anunciou o governo no mês passado. A decisão seguiu uma rodada semelhante de cortes no fim do ano passado.

Outras reduções mais dramáticas ocorreram em diversos itens essenciais de alto perfil. As tarifas sobre etanol, margarina, café, queijo, açúcar e óleo de soja foram totalmente eliminadas em março, seguidas em maio pelos cortes para frango, carne bovina, trigo, milho e produtos assados. O ácido sulfúrico, ingrediente essencial para a fabricação de fertilizantes, também teria a tarifa zerada.

Essas reformas não vão representar uma revolução por si só. As reduções permanentes iriam contra as regras do bloco comercial do Mercosul, de modo que as medidas foram faturadas como expedições humanitárias temporárias para aliviar o custo da inflação, na esteira da epidemia de covid que castiga o Brasil.

Após décadas de isolacionismo comercial, não está claro se o presidente Jair Bolsonaro ou o ex-presidente Lula, seu principal adversário nas eleições deste ano, apoiaria uma mudança geral na proteção alfandegária.

A mudança provavelmente nem tem muito apoio. Cortar o custo de produtos agrícolas de outros países irritará os poderosos interesses do agronegócio. Enquanto isso, o poder de compra das famílias diminuiu tão drasticamente nos últimos anos que a maioria não tinha condições de comprar alimentos importados – independentemente da tarifa.

Ainda assim, é uma mudança bem-vinda para uma economia mundial que vem adotando uma política cada vez mais protecionista nos últimos anos.

Com informações do Washington Post