
A direita e a esquerda brasileiras vivem falando de uma tal mídia golpista ou conservadora ou vendida, etc, que está a serviço do sistema.
Quanto mais ouço e leio sobre o assunto, menos vejo a existência dela, ainda que isso não signifique não reconhecer a importância da mídia em todos os campos, incluindo o político, e também não reconheça o despreparo de grande parte dos jornalistas, bem como a veia parcial de outro tanto.
Os donos da mídia são de direita; a redação, em sua maior parte, de esquerda. É assim há pelo menos uns 50 anos.
Sempre houve muitos Judas apanhando da mídia: o ex-presidentes Sarney, Lula, Dilma, e Temer, o ex-governadores Aécio Neves e Sérgio Cabral Filho, ex-presdientes da câmara federal, etc. O atual presidente da república, Jair Bolsonaro, é outro alvo da mídia. Dos mais frequentes. São tantos que seria praticamente impossível enumerá-los.
Quem se dispuser a ouvir e ler constatará isso. Basta ter olhos e ouvidos honestos. E ser intelectualmente honesto também.
Sobre a postura crítica que a mídia deve ter, lembro sempre de Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados.”
Os nossos intelectuais, artistas, professores e outros mais têm postura paradoxal: adoram e propagandeiam suas falas, entrevistas e flashes na mídia e, ao mesmo tempo, trombeteiam contra sempre que se sentem desgostosos com ela.
A brilhante sacada de Millôr Fernandes, falecido em 2012, deveria ser uma profissão de fé de quem se mete a fazer jornalismo, a saber, exercitar e exercer o espírito crítico, fiscalizar o poder e se afastar de qualquer tendência que visa a amplificar acriticamente versões e ideias alheias descoladas da realidade.Também é salutar não se prestar à bajulação, o que significa tratar com rigor os fatos e nunca se apresentar como cordato a um flanco, enquanto se dobra a outro, tornando-se seu porta-voz.
Ser oposição, no sentido jornalístico, é atitude recomendada em relação a todos os poderes, públicos e privados, analisando com lupa presidente da república, governadores, prefeitos, parlamentares e juízes, empresas pública e privada.
Ninguém que tenha poder, seja simpático ou antipático ao jornalista, deve estar a salvo do olhar clínico do quarto poder. Só assim a imprensa resguarda sua função num regime livre.
E que estrebuchem todos aqueles que se sentem incomodados com o trabalho livre de uma imprensa livre.