Há salvação?

11 de julho 2019 - 08h21
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A polarização na qual o Partido dos Trabalhadores (PT) e grande parte da esquerda brasileira apostaram não foi uma boa estratégia, ao contrário do que eu supus na esteira da eleição presidencial de 2014. Escreverei sobre isso no próximo artigo.

Volto as baterias para um tema que dialoga com ele, mas que hoje está mais na ordem do dia, o de entender qual o caminho que o PT deveria trilhar para se salvar e no futuro até se fortalecer como partido político que dialogue com amplos segmentos da sociedade brasileira e não apenas com algumas comunidades ideológicas muito próximas a ele.

Escrevo sobre o PT e também sobre Lula, mesmo que o ex-Presidente, hoje, seja apenas um espectro a assombrar o campo político e inviabilizar qualquer movimento do partido que ajudou a fundar e que guiou por quase quatro décadas.

Há caminhos auspiciosos, alguns mais fáceis e outros mais difíceis.

Sigamos pelo caminho que o partido trilhou ou sobre o qual se construiu, em parte, por mais de duas décadas, até ser flagrado com a boca na botija no Mensalão e posteriormente no Petrolão, o da linha “ética na política”.

Para isso o partido teria de abandonar o discurso de que movimentos conspiratórios e golpistas foram os responsáveis pelo impedimento da presidente Dilma Rousseff. Ele serviu, até um dado momento, para unir a militância, mas afugentou parcela significativa da população e não atrai mais ninguém. Também não faz muito sentido exigir ética na política amarrado a aliados, como Renan Calheiros, que simbolizam o contrário.

As possibilidades de que isso venha a ocorrer são mínimas, pois essas medidas exigem força, verve e, acima delas, ação – e, sejamos honestos, o PT e parte da esquerda brasileira que subiu no seu barco vivem num estado que passeia entre a letargia, a perplexidade e a catatonia.

Quando as lideranças do PT agem, mergulham no erro, confundindo as fronteiras entre os interesses do partido e os do país, apostando no “quanto pior melhor”. Pior, seguem fazendo barganha política para sufocar o compromisso que dizem ter com a moralidade pública.

A mania de falar mais do que fazer é da genética do PT, possivelmente herdado do seu maior líder, o ex-presidente Lula, um notório líder de massas e nunca um gestor.

Sendo Lula um grande líder de massas, deveria, nesta encruzilhada, falar, explicar-se e, no limite, pedir desculpas, como o fez o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que, flagrado cedendo à lascívia e à luxúria em plena Casa Branca, foi à televisão e pediu desculpas pela fraqueza. Ou pelo menos como o próprio Lula, que, logo após estourar o Mensalão, desculpou-se pelos erros do partido – e não os dele, imune à autocrítica e a qualquer crítica.

A diferença entre o norte-americano e o brasileiro é que as desculpas de Clinton permaneceram desculpas; as de Lula logo naufragaram na negação do erro antes admitido e no populismo eleitoral e político de 2006 e dos anos seguintes.

Talvez Lula não tenha seguido a senda aberta por Clinton porque o erro deste foi de caráter estritamente pessoal, enquanto o do brasileiro foi de caráter político e administrativo. Ora, Lula iria pedir desculpas por ter posto no governo os seus companheiros de uma vida política inteira ou por ter feito alianças políticas equivocadas com lideranças que passou a vida denunciando como corruptas?

Não, Lula é Lula e não fará o discurso que espantaria a crise do PT e da esquerda. Possivelmente ele nem a veja e, não a vendo, não pode entendê-la, tampouco feri-la e destruí-la.

Lula é maior do que o PT e muito menor do que Clinton e do que a crise que ele e o seu partido criaram. Por isso naufragam juntos, deixando órfã a esquerda brasileira.

Sem se reinventar, a esquerda seguirá fragorosamente derrotada nos próximos anos.