
Há 95 anos, em 14 de outubro de 1927, pousava no recém construído Campo dos Franceses, a 17 quilômetros de Natal, um Breguet XIX, batizado por “Nungesser-Coli”, registro na cauda Nº 1685, pilotado pelos aviadores franceses Joseph Le Brix e Dieudonné Costes. Este fato marcou a história do local, como o primeiro pouso de aeronave na pista de Parnamirim, 15 anos antes de se tornar a famosa base aliada na Segunda Guerra Mundial.
Tratava-se do primeiro raid aéreo entre a África e América sem escalas e pousando em Natal, totalizando cerca de 3.200 km, ao tempo de 19 horas e 20 minutos de voo. Vale lembrar que o trecho era conhecido, contudo, os aviadores que antecederam eram obrigados a fazer escalas na Ilha de Fernando de Noronha ou até mesmo no rochedo de São Pedro de São Paulo. Quatro meses antes, em maio, o americano Charles Lindbergh fazia o primeiro voo sem escalas entre Estados Unidos e França, a bordo do Spirit of St. Louis.
No caso dos franceses, o Breguet XIX decolou de São Luís, no Senegal, às 4h20, com destino a Natal, onde pousou às 23h45, a uma velocidade média de 180 km/h, mas atingia o máximo de 235 km/h. A aeronave era equipada com um motor Hispano-Suiza de 600 CV, que tinha partido da França no dia 10 de outubro de 1927 com destino final Buenos Aires e transportando cerca de 600 kg em correspondência, com uma primeira etapa até o Senegal de 4.300 km, antes de cruzar o Atlântico.
O feito era incrível pois não existia uma rota regular de transporte de correio aéreo, apena um projeto em desenvolvimento pela Latécoère. Contudo, em abril, ocorreu um fato importante; o surgimento da empresa Compagnie Générale Aéropostale (CGA) que adquiru a Latécoère, e investiu em um campo de pouso em Natal, o já citado Campo Francês ou Campo de Parnamirim.
A ideia de uma rota aérea vindo da Europa e passando pela América do Sul surgiu ainda em 1926, quando a Latécoère envia ao Brasil seu piloto pioneiro Paul Vachet, que chega a Natal com a missão de montar uma base de apoio aos aviadores vindouros da África em rota para o Rio de Janeiro e Buenos Aires, na Argentina. Um rico comerciante residente na capital potiguar, o português Manoel Machado era o proprietário de vasta extensão de terra, entre elas, um trecho indicado pelo coronel Guerreiro, ao piloto como ideal. Guerreiro era militar e caçador, portanto, conhecia bem a região e indicou na localidade do “Pintumbu” ou Parnamirim, por ser plano, de solo arenoso (duro) e contar com vegetação rasteira.
Já em 1927 e sob a tutela da CGA, o campo de pouso foi erguido com poucas construções e uma pista de terra, no mesmo sentido onde hoje existe a “pista 12”, da Base Aérea de Natal. Apesar de ter uma missão comercial, a pista recém construída foi inaugurada por este famoso raid de Coste e Le Brix, na noite de 14 de outubro daquele ano.
Base do piso do hangar que servia a Air France no Campo de Parnamirim (Foto: Leonardo Dantas)
A travessia aérea era de conhecimento de muitos, inclusive no Brasil, por isso, na noite da chegada, proprietários de veículos natalenses se dirigiram ao Campo dos Franceses, onde ligaram os faróis dos carros para auxiliar os aviadores, que também contavam com tochas na pista. Os franceses foram recebidos como heróis e recepcionados pelas mais altas autoridades civis, entre elas: o secretário-geral do Estado, Anfiloquio Câmara, e o agente consular da França no RN, Alberto Roselli. O fato chegou aos cantos mais distantes do planeta, pois foi tema em diversos jornais da época.
Apesar do sucesso do feito, logo foi divulgado que o avião chegou com uma avaria na hélice, o que demonstra a coragem dos pilotos, pois o Breguet XIX era um avião de rodas, sem condição de amerissar no mar e com volume limitado de combustível. O conserto contou com apoio do Governo Brasileiro, pois o próprio ministro de Viação e Obras Públicas, Viktor Conder (1926 – 1930) recomendou que a Inspeção do Porto de Natal auxiliasse os franceses. A decolagem rumo ao Rio de Janeiro se deu no dia 16 de outubro.
O Breguet XIX “Nungesser Coli” entrou para a história e totalizou mais 70.000 km de aventuras, por quase todas as regiões do planeta. O avião está conservado, com o nome Natal gravado em sua fuselagem.
Breguet XIX “Nungesser-Coli” preservado (Foto: David Biscove)
Breguet XIX “Nungesser-Coli” preservado (Foto: David Biscove)