Globo demite dois de seus jornalistas mais antigos; um saiu na véspera do aniversário

08 de Outubro 2021 - 03h33
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A Globo demitiu nesta quinta-feira (8) dois de seus jornalistas mais experientes. Em São Paulo, foi dispensado Alberto Gaspar. No Rio, Ari Peixoto. Gaspar, que assim como Peixoto, foi repórter e correspondente internacional, trabalhava há 39 anos na emissora. A demissão ocorreu nas vésperas de seu 64º aniversário, na próxima quarta-feira (13). O clima nas redações da Globo foi de velório. Já Peixoto, de 65 anos, estava na Globo desde 1987, há 34 anos.

Em uma nova onda de corte de custos, a Globo está desligando profissionais mais antigos, que têm salários mais altos. Na semana passada, foram demitidos Fernando Saraiva, que foi correspondente em Londres e estava na emissora havia 22 anos, o repórter especial Roberto Paiva, na Globo desde o início dos anos 2000, e o produtor especial Robinson Cerântula, que tinha 28 anos de empresa.

Ari Peixoto encerrou sua história de mais de três décadas com a Globo com uma conversa cuja duração cabe nos dedos de uma mão. "Fui 'desligado' (essa é a palavra) hoje da TV Globo. Cheguei para trabalhar e fui chamado à sala do diretor, que em minutos me informou da minha demissão", confirmou ao Notícias da TV. Ele enviou um e-mail de despedida aos colegas (leia abaixo).

Profissão repórter

Alberto Gaspar se formou em Jornalismo pela Universidade de São Paulo e entrou na Globo em 1982, como estagiário, indicado pelo amigo e ex-colega de faculdade Ernesto Paglia. Logo foi promovido a repórter do Bom Dia São Paulo. Começou fazendo reportagens de serviço, mas não demorou a decolar na carreira.

Cobriu as primeiras eleições para governadores depois do golpe militar de 1964, a campanha pelas Diretas Já, em 1984, e a internação e morte do presidente eleito Tancredo Neves (1910-1985), em abril do ano seguinte. Tancredo estava no Instituto do Coração, em São Paulo.

"Essa foi minha primeira grande cobertura. Fiquei um mês ali. Na hora do anúncio da morte, eu estava num restaurante, pois ia trabalhar à noite. Corri para o hospital. Quando vi dois ou três colegas chorando, também me emocionei muito. E na minha casa, no dia seguinte, chorei", disse em depoimento ao projeto Memória Globo.

O jornalista se casou no final de década de 1980 com a também repórter Glória di Monaco. Preocupado com a segurança e qualidade de vida do primeiro filho, o casal decidiu se mudar para o interior de São Paulo. Alberto Gaspar passou então pelas afiliadas da Globo em Ribeirão Preto, Campinas e Varginha (MG). Voltou para São Paulo para trabalhar no Globo Rural, programa em que fez reportagens marcantes em sua carreira.

De volta ao jornalismo diário, em 1995, iniciou uma série de coberturas de tragédias. A primeira foi a do acidente do avião Fokker 100 da TAM, em 1996, que caiu logo após decolar de Congonhas. Em 2014, voltou a trabalhar em um acidente aéreo, o que matou o candidato à Presidência da República do PSB, Eduardo Campos (1965-2014), em Santos, no litoral de São Paulo.

Ari Peixoto também é demitido

Alberto Gaspar e Ari Peixoto têm mais em comum do que a demissão na mesma data. Ambos foram correspondente em Buenos Aires e em Jerusalém e voltaram recentemente a trabalhar presencialmente --desde março do ano passado, estavam atuando em home office, por pertencerem a grupo de risco de Covid-19. Peixoto substituiu Gaspar em ambas as cidades.

Peixoto começou na Editoria Rio em 1º de abril de 1987, com a condição de que raspasse sua barba, como contou ao Memória Globo. No Rio, fez todo tipo de reportagem, das mais sérias, como as disputas sangrentas de traficantes nos morros cariocas, às mais divertidas --em inúmeras coberturas de Carnaval.

Como correspondente no Oriente Médio, Peixoto cobriu a Primavera Árabe, em 2011. De volta ao Brasil naquele mesmo ano, foi trabalhar em Brasília. Em 2013, voltou para o Rio de Janeiro.

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