
Diverti-me muito, esta semana, por fazer uma ótima viagem pelo sertão nordestino, em áreas nas quais o cangaço, uma de minhas paixões de estudo, nasceu e vicejou e, também, por ter ouvido pérolas dos dois principais contendores na batalha presidencial, Bolsonaro e Lula.
No grande comício feito em Brasília, durante a parada cívico-militar em comemoração pelos 200 anos de nossa independência, Bolsonaro sapecou o imbrochável (https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/09/07/7-de-setembro-em-discurso-em-brasilia-bolsonaro-puxa-coro-de-imbrochavel.ghtml), termo grosseiro, machista e assemelhados dito com a espontaneidade sincera de um grosso. Na sequência, criticando o uso político do 07 de setembro feito por Bolsonaro, Lula, em uma de suas mais deliciosas falas, afirmou que o evento comandado pelo rival parecia uma reunião da Cuscuz Klan (https://www.youtube.com/watch?v=SAV8AJMTLto), numa referência à Ku Klux Klan, organização fundada nos Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, e que patrocina atos supremacistas brancos e terroristas contra negros e simpatizantes dos direitos civis dos negros. Foi a fala sincera de um primário.
As manifestações de Bolsonaro e de Lula demonstram que o nível da campanha política deste ano é pedestre, mas traz à baila uma coisa positiva: desvela quem é quem. E é assim que candidatos devem se apresentar aos eleitores e não na roupagem artificial criada em laboratórios de publicitários e marqueteiros, sem a espontaneidade da vida como ela é.
Tempos bons, digo sem saudosismo algum, era aqueles em que políticos e jogadores de futebol, mesmo com toda a roupagem publicitária e mercadológica, eram o que eram e diziam as coisas com “grosseria”, sem maiores preocupações com melindres bobocas.
Em abril de 1991, após uma manifestação contra o seu governo, o então Presidente Fernando Collor de Mello bradou em cima de um palanque, no Nordeste, ter aquilo roxo (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/3/29/brasil/4.html), expressão empregada na região para designar coragem e virilidade. Geralmente quando se quer enfatizar que uma criança tem força e masculinidade, diz-se que ela tem saco roxo.
Em 2006, o então Presidente Lula disse que Pelotas era exportadora de viado (https://www.youtube.com/watch?v=fVgtZY5oLGY) e o linguajar não causou celeuma alguma. Quando já ex-presidente, com a Lava Jato nos seus calcanhares, questionou o silêncio das mulheres, do PT, de grelo duro
(https://extra.globo.com/noticias/brasil/lula-chama-feministas-do-pt-de-mulheres-do-grelo-duro-internautas-reagem-18897069.html). Seria possível enumerar diversas passagens constrangedoras sobre falas de Lula, mas fiquemos nas duas acima.
A candidata a Presidente Simone Tebet, defensora de pautas feministas, escreveu no Twitter ser necessário, neste momento, “uma mulher para arrumar a casa e pacificar o país” (https://twitter.com/simonetebetbr/status/1564063968334946306). Antes de seguir, não acho a frase machista, mas ela pode ser tornar machista se tirada de contexto ou se dita por alguém que não seja simpático a quem a tira de contexto.
Há uma passagem num dos textos de Marx e Engels, não lembro exatamente em qual obra, em que eles criticam as diferentes formas de socialismo, entre as quais o socialismo burguês. Tal vertente, segundo os autores, faz parecer que os explorados achem que as coisas estão melhorando quando não estão.
Mal comparando, as discussões sobre diversidade seguem a trilha apontada por Marx e Engels e resultaram na cultura woke, com um monte de chatos falando de tudo, com sensibilidade extremamente aguçada, a partir da bolha na qual estão inseridos.
É a cultura da afetação. Nela sobram delicadeza, recato, vergonha, pudor, etc. Tudo entre aspas, perdoem-me o esquecimento.
Todos carregamos um naco de hipocrisia, mas essa turminha sensível demais está montada num pacote de fingimento e impostura que claramente transborda. Tartufo enrubescer de vergonha ante à desfaçatez.
São assim porque se consideram os monopolizadores da virtude. Fingem ser bons, mas só são hipócritas praticamente todas as vezes em que manifestam as suas decantadas virtudes.
O mesmo pessoalzinho que recrimina as grosserias de Bolsonaro ou recriminou as de Collor fecha olhos e ouvidos para o que é ou foi dito por Ciro Gomes, Lula ou Simone Tebet. É o mesmo pessoalzinho que inventou a política sem mentira e cola na mentira o pomposo título de fake news, que são apenas e tão-somente mentiras, um dos substratos da política, afinal ainda não se inventou o político que não mente.
Como também não se inventou o woke que não mente e ele está quase sempre mentindo, principalmente quando posa de virtuoso, o nosso maior risco é, hoje, seguir refém das pautas dessa turminha pseudo virtuosa, caminho aberto para o autoritarismo identitário.
Que passem logo os tempos dos mentirosos com grife.