Cursos do SENAI-RN avançam no interior e aumentam ‘sonhos de emprego’ em setores como o de energia

01 de Novembro 2021 - 15h29
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Dentro de um caminhão estacionado em Pedro Avelino – cidade potiguar a 154 quilômetros da capital, Natal – Usiel Florentino Leandro segura a máquina de solda e vê seus “sonhos” crescerem “de olho em um emprego”.

“Há indústrias de fabricação de peças que precisam de soldagem ou soldagem de tubulação”, diz ele. “Mas já pensei também em parque eólico. Ter carteira assinada, todos os benefícios que a empresa dá”, faz planos.

O homem de 28 anos fala sobre possibilidades de futuro no mesmo dia em que completa o primeiro curso de Soldagem Básica do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN, no município, em um programa de capacitação profissional financiado pela prefeitura – e oferecido à população de forma gratuita.

De acordo com dados divulgados na sexta-feira passada (29), entre janeiro e setembro deste ano, os serviços do SENAI-RN alcançaram 152 municípios do Rio Grande do Norte, o que corresponde a 91% do território potiguar.

O total de matrículas em cursos profissionalizantes superou a marca das 19 mil, no período, desempenho 10% além da meta prevista. Os números mostram uma expansão que seguiu em outubro, com a estreia do CTGAS-ER, por exemplo, em Pedro Avelino.

“Essa interiorização das nossas capacitações e cursos é uma missão colocada nos últimos anos pelo presidente do Sistema FIERN, Amaro Sales. O objetivo é atender as demandas das indústrias em todas as regiões, fazendo chegar, anualmente, aos 167 municípios do Estado, a capacitação disponível nos nossos centros de ensino”, diz Emerson Batista, diretor regional do SENAI-RN, parte do Sistema FIERN, junto com o IEL e o SESI no estado. “Levamos oportunidade a essa população que muitas vezes não tem condições de realizar os cursos face aos deslocamentos necessários”, acrescenta.

Os caminhos da qualificação
Em Pedro Avelino, o curso de Soldagem Básica chegou a bordo de uma das 14 unidades móveis do SENAI no estado. São caminhões especialmente equipados como sala de aula que saem da capital para formar profissionais onde a necessidade chama.

Usiel já foi ajudante de pedreiro, trabalhou em pastelaria, foi auxiliar de serralheiro e, em 2020, montou o próprio negócio. Aprendeu a arte da soldagem no dia a dia, e, agora, com a formação oficialmente de soldador, quer ajudar a fazer parques eólicos.

O Rio Grande do Norte tem atualmente 34 cidades produtoras de energia eólica. É, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o estado com a maior potência instalada (5.574,8 Megawatts) e com a maior quantidade de aerogeradores, os equipamentos gigantes com formatos que lembram cataventos e se espalham pelo estado convertendo a energia do vento em energia elétrica.

Parque eólico no RN: estado é o maior produtor nacional de energia eólica. Projetos e oportunidades estão em dezenas de municípios

Um novo currículo
Em Pedro Avelino, oito projetos do setor estão em andamento – classificados como “em construção ou com construção não iniciada” – e totalizam a segunda maior potência outorgada no estado, atrás apenas do município de Lajes, segundo o Mapa das Energias Renováveis do Sistema FIERN, a partir de dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Usiel só viu os parques eólicos até agora em outros municípios, de longe. Os planos profissionais que traça, porém, já passeiam entre as torres que enxerga erguidas no horizonte. E, agora, só aumentam.

“Eu já coloquei currículos para auxiliar de serviços gerais (ASG) em alguns parques, mas não fui chamado”, diz ele. “Geralmente outras vagas só pegam quando se tem curso e agora, quando receber o certificado, vou fazer outro currículo, vou tentar de soldador”.

 

Usiel já buscou vaga como ASG em parques eólicos. Agora, mira oportunidade como soldador

Onde está o emprego
O soldador é o profissional que executa operações de soldagem manuais ou semiautomáticas. Une e corta peças de ligas metálicas usando processos de soldagem e corte específicos.

Segundo Kergivaldo Medeiros, professor nos cursos de Soldagem do CTGAS-ER, entre as possibilidades de atuação no mercado estão setores como petróleo-petroquímico, naval, construção civil, metalúrgico e energia eólica – onde o trabalho se dá na soldagem de fôrmas metálicas para base e coluna de torres de sustentação de aerogeradores, assim como na soldagem de torres metálicas, por exemplo.

Dependendo do segmento, entretanto, para conseguir ocupação no mercado, cursos complementares, a exemplo de trabalho em altura, podem ser obrigatórios, diz o professor.

Além de Usiel, outras 19 pessoas, entre homens e mulheres, fizeram o curso de Soldagem Básica na primeira turma do SENAI-RN em Pedro Avelino. Outro curso, o de Tecnologia e Instalações de Sistemas Fotovoltaicos, tem realização prevista ainda neste ano.

“A Região Central do estado está com olhos voltados às energias renováveis e Pedro Avelino não é diferente, então áreas como essa estão necessitando de mão de obra e por isso estão sendo escolhidas pelo Município para qualificação”, disse a prefeitura, por meio da assessoria de comunicação.

E acrescentou: “Estamos com uma usina solar fotovoltaica sendo construída no município, temos perspectivas de maiores projetos no setor eólico e acreditamos que essa mão de obra qualificada deverá suprir parte da demanda”.

Não há um estudo de quantos habitantes poderão ser empregados nos projetos, mas o Município se diz confiante no aquecimento do setor. “Acreditamos que muita mão de obra será necessária e boa parte das pessoas no curso busca se inserir no mercado”.

Usiel faz parte dessa lista e afirma que no caminhão onde mergulhou no “mundo da soldagem”, também começou a construir novos sonhos.