Conferência do Potengi: o encontro que não estava na agenda dos presidente

26 de Janeiro 2024 - 21h45
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Quando imaginamos reuniões importantes, sobretudo quando envolve chefes de estado, logo pensamos em dias ou meses de planejamento e o envolvimento de inúmeras pessoas para que as coisas ocorram de acordo. Contudo, na vida real nem tudo é como imaginamos e com a Conferência do Potengi não foi diferente. Poucos dias antes de deixar os Estados Unidos, o presidente Franklin Delano Roosevelt não sabia que viria encontrar o brasileiro Getúlio Vargas.

Neste artigo não vamos questionar a importância da Conferência do Potengi, que neste ano completa 81 anos, no entanto, detalhar os bastidores que nortearam o seu acontecimento e papel decisivo da diplomacia do Brasil.

No fim de 1942, a Casa Branca planejava uma grande viagem do presidente Roosevelt, que deixaria os EUA em janeiro do ano seguinte, a caminho do Norte da África, no Marrocos, por quase 20 dias, utilizando meios terrestres e aéreos.

O motivo da viagem era encontrar o primeiro-ministro inglês, Winston Churchill e o alto comando militar aliado, que contava com nomes que foram decisivos no conflito, como os generais Dwight D. Eisenhower (EUA) e Charles De Gaulle (França). Após a Conferência de Casablanca, surgiu a declaração de que as Nações Unidas estavam empenhadas na rendição incondicional dos países do Eixo.

Sobre o empenho do corpo diplomático do Brasil, documentos mostram como um desencontro proporcionou a realização da reunião em Natal/RN e posterior envio de milhares de homens à Itália, entrando definitivamente na guerra.

Com os detalhes definidos pela Casa Branca, Roosevelt embarcaria dia 10 de janeiro de 1943. No dia 6, às 17 horas, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Jefferson Caffery, envia correspondência ao subsecretário de Estado dos EUA, Sumner Welles, informando que o embaixador brasileiro em Washington DC, o senhor Carlos Martins Pereira e Souza falou de um encontro que manteve com o presidente dos EUA, no qual trataram de um possível convite para encontro com o presidente Getúlio Vargas em Trinidad, na América Central, já com resposta positiva do líder brasileiro ao convite.

Por  sua vez, já no dia 7 de janeiro, o subsecretário Sumner Welles encaminha o telegrama à Casa Branca, para conhecimento de Roosevelt, sobre a mensagem do embaixador Martins, caso ele não tenha sido informado enfaticamente. Em 8 de janeiro de 1943, chega a resposta de Roosevelt, esclarecendo que: simplesmente comentou sobre a possibilidade de um encontro durante o inverno nas Bahamas, então ilha das Índias Ocidentais, sem qualquer definição ou trato diretamente com Vargas.

Essa troca de correspondência diplomática comprova que dias antes de F.D.R. iniciar sua viagem ao Norte da África não havia qualquer acordo de encontro com Vargas em Natal, tendo em vista que a comitiva partiu na madrugada do dia 10 de janeiro de 1943.

O convite que não existiu foi então incluído na viagem de volta da Conferência de Casablanca, na África, e a agenda incluiu a passagem por Natal, onde encontraria Vargas, em 28 de janeiro de 1943.

Como todas as tratativas passaram pelo alto comando militar americano, as autoridades brasileiras não foram incluídas. Além disso, por estar em tempo de guerra, a viagem era em caráter sigiloso. O almirante Ingram e o general Walsh foram ao Rio de Janeiro buscar Vargas, que saiu do Palácio em segredo, embarcou em avião americano, chegou a Natal e foi embarcado em navio da Marinha Americana, tudo sem as autoridades brasileiras saberem.

Em fevereiro de 1943, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Jefferson Caffery, envia correspondência relatando os resultados do encontro ocorrido em janeiro e relata o entusiasmo de Vargas ao retornar de Natal, com a notícia de ter aprovado uma resolução do Brasil se unir com tropas às Nações Unidas. Além disso, comunicou a satisfação do brasileiro sobre a observação informal de Roosevelt a respeito de tê-lo ao seu lado durante a conferência de paz, em caso de uma vitória sobre o Eixo.

Depois da Conferência do Potengi, ficou decidido que o Brasil criaria uma Força Expedicionária, e em abril de 1943, o brigadeiro Eduardo Gomes foi ao norte da África, local provável da atuação dos brasileiros, para conferenciar com o general americano Mark Clark. Se conversou sobre o Brasil mandar uma força expedicionária de 5 mil homens, que o brigadeiro afirmou ser muito maior após conversar com o General Dutra, Ministro da Guerra.

Na prática, a reunião de janeiro de 1943 definiu o futuro da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial com o envio de tropas para o front europeu.

Em 1942, o Brasil já tinha rompido relações diplomáticas com a Alemanha e Itália após sucessivos ataques de submarinos a navios na costa brasileira, causando milhares de mortes, e declarado Estado de Beligerância, em agosto do mesmo ano. O País estava em guerra. Além disso, já havia cedido território para a instalação de bases aéreas desde 1941 e permitido o uso dos portos para fins militares. Restava então o envio de tropas para o combate. Foi aqui acertado o embrião do que conhecemos como Força Expedicionária Brasileira (FEB).

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Domingo, 28 de janeiro, dia da Conferência do Potengi