Compra frustrada do Consórcio Nordeste rendeu lucro de mais de 3.000% a empresas

10 de Junho 2020 - 08h57
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As empresas investigadas na Operação Ragnarok venderam respiradores por preço 3.000% acima do custo de produção para o Consórcio do Nordeste. Os equipamentos nunca foram entregues, mas R$ 49 milhões foram pagos pelos nordestinos antecipadamento. O dinheiro também não foi devolvido, até agora.

A revelação foi feita em reportagem da Piauí, que obteve planilhas de uma empresa terceirizada da Biogeoenergy, responsável pela montagem dos produtos que seriam distribuídos pela HempCare. Segundo o portal, os documentos indicavam o custo individual de R$ 2 mil para cada ventilador. Como cada equipamento foi vendido por R$ 162,5 mil, se elevado o custo de produção para R$ 5 mil, isso significaria que o valor unitário do equipamento foi o equivalente a 3.150% do valor de produção.

A nível de comparação, a publicação pontua que o respirador importado mais caro da General Eletric, líder no mercado, custa R$ 140 mil.

Um médico intensivista e também representante de uma fabricante de ventiladores ouvido pelo site disse que a tecnologia usada pelo "Respira Brasil" é obsoleta, de 20 anos atrás. “Esse equipamento não permite mensurar a real necessidade de oxigênio do paciente nem saber o grau de infecção pulmonar. É como um Fusca sem velocímetro. Você vai às cegas”, comparou o profissional. Foi ele quem estimou que o custo de produção de um equipamento com as características utilizadas pela Biogeoenergy.

A assessoria da Biogeoenergy negou que o custo de produção de cada ventilador tenha sido de 5 mil reais, mas não informou valores. Segundo nota da empresa, o “Respira Brasil” é “de última geração” e atende as especificidades da Anvisa. “O equipamento passou em todos os testes a que foi submetido e aguarda apenas a autorização do órgão federal para que a produção comece.” A Biogeoenergy disse que, inicialmente, a Hempcare entregaria ao Consórcio do Nordeste ventiladores importados da China, e somente quando não conseguiu fazer a importação é que procurou a Biogeoenergy para obter os aparelhos. “Não temos compromissos firmados ou assinados com o Consórcio do Nordeste e, portanto, nenhuma responsabilidade sobre a quebra de contrato da Hempcare com os governos do Nordeste.” 

*Com informações da Piauí e Bahia Notícias