Bond racistE, machistE ou qualquer outro “E”

28 de Fevereiro 2023 - 07h56
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A tchurma não para.

Depois de apontar racismo nas obras de Monteiro Lobato (https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/bisneta-de-monteiro-lobato-exclui-passagens-racistas-em-adaptacao-de-classico/) – e de outros, como Machado de Assis – a bola da vez é Ian Fleming, jornalista e escritor britânico (https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/bisneta-de-monteiro-lobato-exclui-passagens-racistas-em-adaptacao-de-classico/).

Monteiro Lobato nos deixou obras que, em diferentes situações, tiveram o reconhecimento público do leitor e da crítica especializada, ao mesmo tempo que gerou polêmicas. A de ser racista é uma delas e deve ser enfrentada de frente e não escondendo o problema, afinal termos como “Macaca de carvão” e “Beiçuda” estão nos textos do escritor, é verdade. Reescrever a obra dele, porém, retirando-os não é o caminho adequado. Parece insistência em salvá-la diante das mudanças sociais e políticas pelas quais passa o Brasil e o mundo, quando elas já são clássicas e, assim, devem ser revisitadas para que delas tiremos ensinamentos e entendamos porque somos como somos. Se há trechos racistas, que sejam explicitados e trabalhados criticamente, contextualizando autor e obra. É assim que se ensina e se formam as gerações que seguirão após a nossa.

Ian Fleming criou o mais espetacular agente secreto da história e é justamente James Bond (007) que está sob ataque da tchurma, segundo li nos últimos dias.

A tchurma quer adaptar todos os livros de James Bond, cortando as partes consideradas ofensivas. Conforme o The Telegraph, os livros terão o seguinte aviso: “Esse livro foi escrito em uma época em que termos e atitudes que podem ser consideradas ofensivas por leitores modernos eram comuns. Algumas atualizações foram feitas nesta edição, tentando se manter o mais próximo possível ao texto original e ao período em que se passa”.

Se esse pessoal sempre tiver sucesso em seus intentos, quem quer conhecer os textos de autores como Monteiro Lobato, Ian Fleming, etc terá de comprar livros apenas em sebos ou de alguma editora que se mantenha refratária aos modismos paridos na academia e difundidos por autoritários identitários.

Li certo tempo atrás que alguns estúdios encontraram uma solução (parecida com a acima citada sobre as novas edições da obra de Fleming) para advertir quem assiste aos filmes por eles produzidos: os espectadores devem estar atentos sobre a linguagem e os valores da época em que a obra foi realizada. Tal advertência deveria estar, o tempo todo, na cabeça de toda pessoa civilizada, como deverá estar (espero) na dos nossos escancha-netos quando se depararem com livros e filmes que tentaram, de forma canhestra (desculpem o eufemismo), atropelar valores que deveriam ser caros a leitores e espectadores, a saber, a capacidade de, sem “pajeamento”, pensar sobre o leem e assistem.