Israel versus Palestina: a realidade por trás do conflito (1)

23 de Outubro 2023 - 10h37
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Disse dias atrás alguma coisa sobre como o antissemitismo deu o ar da graça, com força, nos dias que se seguiram ao ataque do Hamas a Israel e à reação deste à covardia de que foi alvo.

Não precisa de muito para constatar como o antissemitismo continua uma praga que precisa ser combatida. São quase dois mil anos da chaga e quase sempre, ao longo de dois milênios, ela gerou não só preconceito, mas mortes. Muitas mortes. Na mais violenta manifestação do mal, quase seis milhões de judeus foram varridos do planeta por um regime assassino.

É preciso deixar claro, porém, que nem toda crítica a Israel é antissemitismo e tampouco que o Holocausto perpetrado pelos nazistas signifique passe livre para que o Estado israelense haja como quer, sem respeitar os princípios civilizatórios.

Lendo muito e pensando sobre o assunto, nos últimos dias, resolvi escrever as linhas abaixo, dividindo-a, porque ficou muito grande para um artigo de opinião veiculado pela Internet, em três partes que serão publicadas em três semanas, sempre às segundas-feiras, começando por esta.

Israelenses e palestinos têm direito à autodeterminação e a existência de dois Estados, o israelense e o palestino, é a mais adequada para garantir o princípio da autodeterminação. Logo, os assentamentos que Israel montou em áreas destinadas aos palestinos são uma forma indefensável de os israelenses lidarem com o problema e constituem agressão ao povo palestino. No entanto, se os assentamentos israelenses desrespeitam a soberania palestina, um estado teocrático palestino também fere uma lista interminável de direitos humanos. Não dá para fazer fala e escrever textos e tratados humanistas para defender autodeterminação dos povos e, ao mesmo tempo, assimilar violência política para naturalizar proposta de regime teocrático que maltrata e submete mulheres, gays e outras minorias. Os erros cometidos por Israel não justificam, sob qualquer hipótese, a ação do Hamas, do Hezbollah ou de qualquer outro grupo que tenha na violência desmedida contra civis o seu modus operandi. É necessário dizer, com todas as letras, que o Hamas é um grupo terrorista e repudiá-lo.

Muito se diz sobre o fato que Israel ser a única democracia no Levante (Oriente Médio). É verdade. O repúdio contra o Hamas e todas as organizações terroristas que atuam na região, entretanto, não deve nos cegar para a existência do fundamentalismo religioso nacionalista que se homizia na extrema-direita israelense e nem deixar que reconheçamos que o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu é uma liderança política desqualificada para conduzir Israel e que no governo dele a insegurança de israelenses e palestinos aumentou. Há um dado que precisa ser exposto: a qualidade do processo democrático israelense diminuiu durante o governo Netanyahu.

A escalada da violência não melhorará o status de israelenses e palestinos, nem aumentará a estabilidade e a segurança da região. E por pior que seja o governo Netanyahu, o que está acontecendo na Palestina não se compara com o Holocausto, quando em torno de seis milhões de judeus foram assassinados. Industrialmente. Quem realiza essa comparação banaliza e diminui o nazismo e dissemina antissemitismo. E quem assim age deve ser execrado pela opinião pública.

Com o desenrolar da guerra entre Israel e Hamas, uma luta foi travada entre os defensores de Israel e os defensores Palestina e isso deu ensejo a muita propaganda travestida de jornalismo nas redes sociais e na imprensa, distorcendo a realidade política da região, quando o momento exige que seja separado o que é história e o que é propaganda.

A história é construída com fatos que são duros de engolir, mas que precisam ser ditos e escritos, sem rodeios e sem floreios. São a dureza e a crueza da realidade que forjarão o espírito dos homens para enfrentar e resolver a realidade que se impõe e que, por mais que queiramos, não pode ser dourada.