
Mais de 70% das menções ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foram negativas, segundo levantamento da consultoria Bites a pedido do Globo. O anúncio da medida, feito pelo Ministério da Fazenda na última quinta-feira (15), foi amplamente criticado por ser visto como aumento de taxação sobre investimentos no exterior. Diante da repercussão, o governo recuou horas depois e manteve a alíquota zerada para fundos nacionais aplicados fora do país.
Desde o anúncio, o tema gerou 144 mil menções nas redes sociais — 78,2 mil apenas na sexta-feira. O tom negativo esteve presente em 72,6% das postagens, contra apenas 15% positivas.
Segundo André Eler, diretor-adjunto da Bites, a falta de alinhamento na comunicação e o vai e vem nas decisões têm enfraquecido a gestão Lula, inclusive entre aliados. “Quase ninguém defendeu o governo nas redes, nem mesmo deputados do PT. A base não consegue criar uma narrativa sólida para justificar as medidas”, afirmou.
Apenas um parlamentar, o deputado Bohn Gass (PT), saiu em defesa da medida. Já lideranças da oposição intensificaram as críticas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, que lembrou ter zerado a alíquota do IOF em 2022. “Infelizmente, o atual governo, em sua ânsia por arrecadação, anunciou um aumento generalizado no IOF”, escreveu.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que a medida é reflexo do “caos fiscal” e chamou o governo de “agenda econômica bizarra da extrema-esquerda”. Já o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) classificou o anúncio como “cortina de fumaça”. Outros nomes da oposição, como Sérgio Moro (União-PR), Deltan Dallagnol (Novo-PR), André Fernandes (PL-CE) e o governador Romeu Zema (Novo-MG), também se manifestaram contra.
A crítica coincidiu com a cotação do dólar, que abriu sexta-feira (16) a R$ 5,71, e reacendeu o apelido “Taxad” dado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad — referência à proposta da “taxa das blusinhas”, aprovada em 2023.
Histórico de recuos
Essa não foi a primeira vez que o governo recua após críticas a medidas econômicas. Em janeiro, a Receita Federal revogou uma norma que previa envio de dados de transações via Pix acima de R$ 5 mil mensais. A repercussão negativa levou à intervenção direta do presidente Lula, que delegou à Secom o controle das comunicações oficiais.
A nova proposta sobre o IOF também foi divulgada no mesmo momento do anúncio de um contingenciamento de R$ 31,5 bilhões no Orçamento, o que acentuou a percepção negativa do mercado — cenário parecido ao da apresentação da isenção do IR para quem recebe até R$ 5 mil, também acompanhada de cortes em 2023.