VÍDEO: Jornalista expõe intimidade das conversas entre Dani Calabresa e diretor da Globo acusado de assédio

16 de Junho 2022 - 04h28
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Acusado de assédio e importunação sexual desde 2020, Marcius Melhem tenta provar que a relação com Dani Calabresa era consensual. Para isso, usa na estratégia de defesa cerca de 270 mensagens trocadas com a humorista pelo WhatsApp. Esta coluna teve acesso aos autos da investigação, em que estão os diálogos. As conversas mostram clima amistoso entre eles e indicam, inclusive, flertes recorrentes. Em uma delas, eles falam sobre beijos em uma festa.

Ao menos 27 conversas entre o ex-diretor da Globo e a atriz, datadas de 2016 a 2019, constam dos autos da investigação. Além disso, pelo menos 12 testemunhas ouvidas pela Polícia Civil negam em depoimento que houve assédio de Melhem a Calabresa. Cerca de dez outras afirmam que sabiam que havia assédio, mas que nunca presenciaram.

A coluna acompanha o caso há 15 meses e decidiu publicar as mensagens após a obtenção dos autos da investigação, pois elas são fundamentais para ajudar a esclarecer o que houve. As conversas mostram a relação entre Melhem e Calabresa antes de a humorista procurar a Polícia Civil, em 2020. Desde o início das investigações, no entanto, estão em segredo de Justiça.

Em sua defesa, Calabresa diz que "fingia não perceber os excessos" e tinha "sentimentos de medo, receio e de ojeriza". Ela afirma que "fingia normalidade para preservar sua carreira" e também acusa Melhem de tê-la prejudicado na Globo. Em seus depoimentos, o ator admite que "deu em cima" de Calabresa após sua separação de Marcelo Adnet, em 2017, mas nega ter assediado ou feito algo de agressivo ou nocivo a ela. Melhem, que estava solteiro desde 2016, também alega que Calabresa retribuía com mensagens e atitudes positivas -como ter-lhe mostrado nudes e, muitas vezes, mandado textos de cunho erótico a ele. Essas conversas constam dos documentos.

Calabresa alega que desde que chegou à Globo, em 2015, Melhem "teve comportamento inadequado, usando a informalidade do meio artístico para agir de forma inapropriada com suas subordinadas", inclusive "não raro excedendo em toques, apertos, tentativas de beijos e comentários lascivos constrangedores".

Para se defender dessas acusações, ele utiliza conversas da época com o intuito de mostrar ter relação de intimidade com a atriz no período.

A primeira troca de mensagens à qual a coluna teve acesso é do dia 27 de novembro de 2016, às 21h59. Ela é utilizada pelo diretor.

Ainda sobre as acusações de comportamento inadequado, Calabresa conta que, durante uma festa na casa do diretor Maurício Farias, em 17 de abril de 2017, Melhem "arrancou" o celular de sua mão quando soube que ela tinha nudes. A atriz diz que ficou constrangida porque ele começou a olhar as fotos e fazer comentários "lascivos". Duas testemunhas negaram em depoimento que Melhem tenha "arrancado" ou pegado o celular da mão dela. Declararam que Calabresa estava mostrando as fotos - e demonstrava alegria ao fazê-lo.

Em sua mais grave acusação, Calabresa diz que, em 4 de novembro de 2017, numa festa da equipe do "Zorra", no Rio, Melhem tentou forçá-la a entrar num banheiro com ele. E que os atores Luis Miranda e George Sauma correram para protegê-la. Sauma negou em depoimento que isso tenha ocorrido. Afirmou, ainda, que só soube da "história de assédio" pela revista Piauí. Miranda ainda não depôs. Duas pessoas que estavam no local e foram ouvidas pela reportagem dizem ter visto a cena e que tudo parecia consensual. Calabresa nega.

A Globo investigou internamente a denúncia de assédio feita em dezembro de 2019 por Dani Calabresa contra Marcius Melhem, seu então chefe. As investigações foram feitas pelo DAA (Departamento de Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico), que não constatou provas e encerrou o caso no início de 2020.

Ao saber da decisão, Calabresa procurou a Polícia Civil e recorreu ao compliance da emissora - o departamento assegura que as regras internas sejam cumpridas pelos funcionários. Após meses ouvindo testemunhas pró-Calabresa e pró-Melhem, o setor também arquivou o procedimento, como esta coluna publicou em janeiro deste ano.

Atualmente, há uma investigação de assédio e importunação sexual em andamento na Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) no Rio; uma ação cível (movida por Melhem contra Calabresa, por danos morais e materiais); e outra ação movida por Calabresa contra o ex-diretor por ele ter divulgado mensagens trocadas entre ambos. Os três processos correm em segredo de Justiça e não foi definido prazo para que sejam finalizados.

Procurado pela coluna, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que representa Calabresa, afirmou que não se manifestaria "porque o processo segue em segredo de Justiça". O profissional ainda informou que falava em nome das outras acusadoras, cuja defesa conta ainda com as advogadas Beatriz Rizzo e Mayra Cotta.

Com informações de UOL