Taxa de juros no maior nível em seis anos já afeta atividade econômica do Brasil

02 de Fevereiro 2023 - 04h09
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Estática no maior patamar dos últimos seis anos, a taxa básica de juros começa a trazer os primeiros efeitos negativos para a economia nacional, com freio na atividade dos três principais setores responsáveis pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país.

Entre março de 2021 e agosto do ano passado, a taxa Selic saltou 11,25 pontos percentuais, de 2% para 13,75% ao ano. A disparada foi motivada pela tentativa de conter o avanço da inflação, que começava a se descolar do teto da meta pré-estabelecida pelo governo.

Nesta quarta-feira (1º), na primeira decisão no governo Lula, o Copom manteve a taxa em 13,75%, pela quinta vez seguida, desde agosto de 2022, no patamar mais alto desde 2017. A Selic ficará vigente até o fim do mês de março. 

Ao justificar, o BC afirmou que a decisão "reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024".

O BC avaliou ainda que, "sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego".

Os vereditos pela elevação dos juros para conter a inflação já refletem nos últimos dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Enquanto o ramo de serviços, grande motor econômico do Brasil, fechou novembro sem crescimento pelo segundo mês seguido, o comércio (-0,6%) e a indústria (-0,1%) amargaram resultados negativos no mesmo período.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) avalia que a Selic se encontra em patamar alto o suficiente para inibir a atividade econômica e contribuir para a desaceleração da inflação há mais de um ano.

“A taxa básica de juros no patamar atual foi um dos fatores determinantes para a desaceleração da atividade econômica no segundo semestre de 2022 e seguirá sendo um limitador significativo para o crescimento da atividade em 2023, quando as previsões para o PIB indicam alta de apenas 0,8%, segundo o Boletim Focus do BC”, explica o gerente de Política Econômica da CNI, Fábio Guerra. 

De acordo com André Macedo, gerente do IBGE responsável pela PIM (Pesquisa Industrial Mensal), o desempenho tímido do setor responsável por cerca de 20% do PIB nacional, que opera em um nível 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia, é reflexo da perda de intensidade da economia brasileira.

“Não se pode tirar de vista que a economia mostra sinais de perda de intensidade, com taxas de inadimplência em patamares altos, taxa de juros em elevação, e, especialmente os bens de consumo duráveis, embora tenham uma associação também com a renda, têm também uma relação direta com a evolução do crédito”, afirma Macedo.

O salto da taxa básica de juros ao maior nível desde o início de 2017 também refletiram negativamente na Bolsa de Valores no ano passado, com a queda superior a 50% de todas as ações de empresas varejistas.

Entre as perdas, aparecem entre os destaques as gigantes Americanas (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VIIA3), que desabaram, respectivamente, 68,7%, 62% e 54,3% entre janeiro e dezembro de 2022.

Com informações de R7