
ob o comando de Fabio Wajngarten, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) fez mudanças na estratégia da campanha de publicidade sobre a reforma da Previdência, a maior e mais cara do Planalto no ano passado, privilegiando na distribuição de verbas TVs que são clientes de uma empresa do secretário e emissoras religiosas, apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro.
A campanha foi feita em fases. Na primeira, de R$ 11,5 milhões, veiculada de 20 de fevereiro a 21 de abril, o plano de mídia —documento que embasa a estratégia da ação publicitária e detalha investimentos— definiu que a TV mais contemplada com recursos seria a Globo nacional, líder de audiência e que atinge maior público.
A partir de abril, após Wajngarten assumir o cargo, a Secom mudou a orientação. Na segunda etapa da campanha, aprovada na gestão dele, o plano de mídia excluiu a Globo nacional da lista de contratadas, mantendo apenas praças regionais da emissora, cujos anúncios são mais baratos.
Esse mecanismo fez com que concorrentes de menor audiência ficassem com a maior fatia das receitas. O investimento da segunda fase, para todos os meios de comunicação, foi de R$ 36,7 milhões.
Record, Band e SBT foram contempladas, respectivamente, com R$ 6,5 milhões, R$ 1,1 milhão e R$ 5,4 milhões, totalizando R$ 13 milhões.
Como noticiou a Folha no dia 15, as duas primeiras têm contratos privados com a FW Comunicação, de Wajngarten. O SBT foi cliente da empresa até o primeiro semestre do ano passado.
A legislação vigente proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões.
A prática implica conflito de interesses e pode configurar ato de improbidade administrativa, se demonstrado o benefício indevido. Wajngarten nega irregularidades.
Juntas, Record, Band e SBT não alcançaram a audiência da Globo no ano passado, segundo a Kantar Ibope. Somaram 15,1 pontos de média (33% da audiência) entre 7h e 24h nas principais regiões metropolitanas, ante 15,6 da Globo (36%).
A emissora da família Marinho, tratada como inimiga pelo governo Bolsonaro, ficou com R$ 2,6 milhões na nova campanha da Previdência. Outro R$ 1 milhão foi destinado à Rede TV!, que não alcançou 1 ponto de média em 2019, e R$ 145,8 mil à TV Brasil, da EBC, vinculada à Secom.
Folha de S. Paulo