Rede de supermercados terá que pagar R$ 20 milhões por tortura e morte de jovens negros

20 de Setembro 2023 - 03h07
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A rede de supermercados Atakarejo terá de pagar R$ 20 milhões em danos morais coletivos devido ao assassinato de dois homens negros que furtaram carne em uma das unidades do atacado em 2021. O acordo foi fechado com a Defensoria Pública da União (DPU) e outras entidades da Bahia.

O que aconteceu

  • O valor será pago ao Fundo de Promoção do Trabalho Decente (Funtrad) em 36 parcelas fixas a partir de outubro. O acordo foi homologado ontem (18).
  • O dinheiro deverá ser usado preferencialmente em "iniciativas que guardem afinidade com o combate ao racismo estrutural".
  • O acordo foi protocolado no âmbito de uma ação civil pública e não elimina outros processos contra a empresa, como na esfera criminal e ações indenizatórias para a família das vítimas.
  • Outras medidas foram estipuladas no acordo, como a não proibição a filmagens dentro do supermercado e a não contratação de empresa de segurança que tenha "policiais civis ou militares da ativa ou que tenham sido expulsos das instituições".
  • Também foi estabelecida uma meta de equidade racial dos funcionários com base na composição étnica da Bahia e a realização de um programa de estágio com vagas exclusivas para pessoas negras.

"Nos próximos seis meses, o Atakarejo deverá atualizar o seu Código de Ética e Conduta para reforçar, de modo objetivo, a proibição de práticas discriminatórias ou que possam gerar constrangimento e demais riscos identificados e qualquer forma de violência física ou moral por qualquer dos seus trabalhadores, bem como revisar o conteúdo de sua política de diversidade e inclusão reforçando a ideia de tolerância zero à discriminação." - MP-BA, sobre o acordo firmado com o Atakarejo

A ação por dano moral coletivo foi ajuizada pela DPU em parceira com a Defensoria Pública do Estado da Bahia, o Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA), o Ministério Público Estadual (MP-BA), o Educafro, o Odara Instituto da Mulher Negra e o Centro Santo Dias de Direitos Humanos.

O UOL procurou o Atakarejo para comentar o acordo e aguarda retorno.

"Sabemos que dinheiro nenhum vai trazer de volta essas vidas, mas a indenização e a cobrança da adoção de medidas para que não se permita o assassinato de pessoas negras é o que é possível de se fazer, no campo do direito." - Gabriel César, defensor regional de Direitos Humanos na Bahia, em nota publicada pela DPU

Relembre o caso

Em 26 de abril de 2021, Bruno Barros e Yan Barros, tio e sobrinho, então com 29 e 19 anos, foram entregues por seguranças a integrantes de uma facção criminosa do bairro Nordeste de Amaralina, depois de terem furtado carnes do Atakarejo.

Fotos mostravam Bruno e Yan, rendidos, sentados no pátio do supermercado e ao lado de quatro pacotes de carne. As vítimas apareciam diante de um homem que seria um segurança do estabelecimento.

Após serem entregues à facção criminosa, os dois foram torturados e mortos. Os corpos foram encontrados em um porta-malas de um carro. Uma suposta lei de segurança imposta por traficantes proíbe roubos na região para não atrair policiais.

A família disse que foi contatada para pagar o valor total das carnes furtadas, mas que Bruno e Yan não tiveram o tempo necessário antes de serem entregues aos criminosos.

Na época, sete pessoas foram presas pelo crime —incluindo três seguranças do supermercado e quatro homens apontados como traficantes.

Com informações da Agência Estado e UOL