
A governadora de Pernambuco Raquel Lyra deu entrevista ao Roda Viva, em 27 de janeiro último, e disse que parte das dificuldades que enfrenta na política é derivada do machismo estrutural. (https://www.google.com/search?q=Raquel+Lyra+reclamando+por+ser+mulher&oq=Raquel+Lyra+reclamando+por+ser+mulher&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOdIBCjExMzk2ajBqMTWoAgiwAgE&sourceid=chrome&ie=UTF-8&zx=1714561451535&no_sw_cr=1#fpstate=ive&vld=cid:fda56f18,vid:69WL0xr4dxo,st:0). Repetiu a fala na CNN no dia 27 de abril. Segundo ela, é difícil estar em cargo de liderança em meio dominado por homens: “(...) quem comanda partidos políticos hoje no Brasil, em sua imensa maioria, são homens. E é difícil na forma de mulher fazer política, muitas coisas são discutidas e decididas para além da mesa que a gente sente. E passa por discussões por homens” (https://www.google.com/search?q=Raquel+Lyra+reclamando+por+ser+mulher&oq=Raquel+Lyra+reclamando+por+ser+mulher&gs_lcrp=EgZjaHJvbWUyBggAEEUYOdIBCjExMzk2ajBqMTWoAgiwAgE&sourceid=chrome&ie=UTF-8&zx=1714561451535&no_sw_cr=1#fpstate=ive&vld=cid:a2d913dc,vid:Ptfi8NdGmLw,st:0).
Acompanhei, com certo interesse, a eleição em Pernambuco, em 2022, porque tinha grande curiosidade sobre a então candidata Raquel Lyra, vitoriosa no segundo turno. Fui a Pernambuco duas vezes em 2023 e, nas duas, ouvi homens e mulheres criticando a gestão da governadora e ouvi outro tanto elogiando-a. Uma das críticas mais comuns, principalmente no interior do estado, é a situação lastimável das rodovias estaduais – o que, diga-se, ocorre no Rio Grande do Norte, na gestão da governadora Fátima Bezerra, reeleita em 2022.
À CNN, Raquel Lyra disse que o Brasil está muito atrasado “na igualdade de gênero”. Ora, o Brasil está muito atrasado em muita coisas, entre as quais a qualidade das rodovias (e o estado que ela administra é um exemplo), na educação, na segurança pública, etc, etc e etc.
A política foi, até o início deste século, espaço de homens. No mundo todo. As mulheres conseguiram, com muita luta e esforço, conquistar um lugar. Mulheres como Margaret Tatcher, Golda Meir, Ângela Merkel e outras mundo afora foram valentes e dignas. Tatcher, por exemplo, era constantemente agredida por virtuosos de esquerda pelo mundo, inclusive entre os virtuosíssimos brasileiros, por apontar as mazelas criadas por defensores de um Estado forte e interventor. Ouvi muita gente chamando de cadela, meretriz, rameira e outros adjetivos impublicáveis.
Aqui no Brasil, mulheres como Wilma Maria de Faria (deputada federal, prefeita de Natal e governadora do Rio Grande do Norte), Ângela Amin (deputada federal e prefeita de Florianópoilis), Sandra Cavalcanti (deputada estadual e deputada federal pelo antigo estado da Guanabara e pelo Rio de Janeiro), entre outras eram alvos frequentes dos nossos virtuosos, sempre prontos a atacar injusta e covardemente os adversários e a apontar o dedo acusador para todos que ousam denunciar os ataques. Sandra Cavalcanti, por exemplo, foi atacada num programa de televisão por Antônio Maria, um do ícones da cultura e da boemia brasileira e criador da expressão politicamente incorreta mulher mal-amada. Antônio Maria tinha um programa na TV Rio com ninguém menos que Ary Barroso (Rio, eu gosto de você), no qual eles conversavam, apresentavam números musicais e entrevistavam personalidades. Num dia, a entrevistada era Sandra Cavalcanti, muito ligada a Carlos Lacerda, e Maria sapecou: “Quer dizer, dona Sandra, que a senhora é uma mal-amada?”. A resposta foi cortante: “Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu que fiz a música Ninguém me ama.” Há quem diga que a resposta garantiu a eleição de Sandra para a assembleia legislativa do Rio de Janeiro.
Quem não se lembra hordas esquerdistas atacando de forma vil a honra da então candidata à prefeitura de Natal Wilma Faria e, depois, a prefeita eleita e empossada?
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, é constantemente alvejado por sua orientação sexual. Fernando Henrique Cardoso foi atacado quando apareceu um filho que teve fora do casamento. Fernando Collor, durante a campanha e o mandato (e depois de impichado), não só pelo seu desempenho na vida pública.
Raquel Lyra seguirá sendo alvejada não por ser mulher, mas por estar na vida pública. É o ônus a pagar.
Por Sérgio Trindade