
Nestes tempos bicudos, em que somos obrigados a ficar em casa para que não sejamos vítimas de um vírus de baixa letalidade mas tinhoso como o cão, o Brasil assiste a um fenômeno que deveria ser pedagógico: conhecimento independe de diploma.
O diploma atesta apenas que o fulano que o possui cursou um certo programa com componentes curriculares, atendendo portanto os requisitos formais.
Faz sentido para certas profissões, notadamente aquelas em que o erro tem consequências graves sobre a vida das pessoas.
Em outras, sentido quase algum, pois não é necessário ser graduado em uma determinada área do conhecimento para que saibamos sobre ela.
É um caminho, mas não o único caminho, pois se assim fosse Nélson Rodrigues e seu irmão Mário Filho ou Roberto Marinho e Assis Chateaubriand não poderiam exercer a profissão de jornalista, Celso Furtado e Pedro Malan não poderiam ser economistas, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda estariam deslocados nas universidades e por aí vai.
Mário Henrique Simonsen passou por situação inusitada: foi professor visitante de Economia em Harvard e aluno de graduação de Economia numa faculdade norte-americana pouco prestigiosa, porque o Conselho de Economia questionou o fato de ele ser economista da Confederação Nacional da Indústria sem ter graduação na área.
Os conselhos profissionais criam exigências de diplomas para o exercício das profissões, até na docência, nível básico e superior.
Os melhores professores de administração do mundo não estariam habilitados para lecionar nas universidades brasileiras porque não são formados em Administração.
O diploma tem servido, muitas vezes, para garantir reserva de mercado, impedindo aqueles que têm conhecimento mas não dispõem do diploma de exercer a profissão para a qual se candidata.
Caso o mundo percorresse os passos do Brasil, os psicólogos Daniel Kahneman e Herbert Simon e o matemático John Nash não seriam premiados com o Nobel de Economia pela Academia de Ciências da Suécia.
A carreira dos professores-pesquisadores por aqui é enaltecida pelas publicações que conseguem emplacar, ignorando-se quase por completo outras realizações no campo profissional.
Se um bambambam do mundo dos negócios inventar um modelo revolucionário, verá sua carreira docente menos valorizada do que um colega que escrever um artigo sobre o modelo revolucionário.
Gostamos de papel. E como o diploma é um papel com timbre, ele tem muito mais valor.
E assim, a ditadura do diploma inviabiliza e atrasa a produção do conhecimento.