Profissão faz mãe perder a guarda do filho de 10 meses: 'Arrancado de mim'

26 de julho 2023 - 03h23
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O "Sem Filtro" de hoje (25) contou a história de uma mãe que perdeu a guarda de seu filho de dez meses porque, de acordo com a Justiça, sua rotina de trabalho era "difícil". Josiane Lima, 29, é comissária de bordo e alega que nem tinha voltado a voar quando foi tomada a decisão. Atualmente, a guarda provisória da criança pertence ao pai. O caso corre em Maringá, no Paraná, e Josiane disse que vai recorrer.

A revolta da mãe parte principalmente do fato de o pai deixar a criança numa creche durante o dia, para poder trabalhar. "O juiz determinou que eu podia ver a criança apenas três horas por dia e em finais de semana alternados", conta Josiane. Em suas folgas, ela pega o bebê na creche e fica com ele durante o período permitido. Ela diz que sua briga é apenas com a Justiça, não com o pai.

Universa teve acesso a documentos do processo, como o parecer do Ministério Público do Paraná para que fosse estabelecida a guarda compartilhada —parecer esse ignorado pela sentença.

Na decisão da 2ª Vara de Família e Sucessões do Paraná, é citado o argumento de que a mãe "possui uma rotina de trabalho delicada" e que, por isso, "não é possível entender que poderá se responsabilizar pelo filho todos os dias".

O Tribunal de Justiça do Paraná e o MP-PR foram procurados pela reportagem, mas ambos alegaram que o processo está sob sigilo e, por isso, não podem se manifestar.

Preconceito com a profissão

Josiane disse que não pensaria duas vezes em trocar de profissão para ficar com a guarda do filho, mas o salário e os benefícios acumulados em uma carreira de dez anos garantem boa parte do bem-estar da criança, como o como auxílio creche e plano de saúde.

"Que o Estado me dê, então, um emprego que tenha o mesmo salário para ficar em tempo integral em casal com meu filho. É muita injustiça uma mulher, no século 21 , ser discriminada por sua profissão. Só podemos escolher trabalho que possa ser conciliado com filho? Se fosse isso, enfermeiras, médicas e várias outras profissões que fazem plantão não poderiam ter a guarda dos filhos. E são profissões dignas. Não tem nexo", diz.

Para a advogada Ana Lúcia Dias, especialista em direito das mães, a decisão do juiz afronta o protocolo de julgamento de perspectiva de gênero do Conselho Nacional de Justiça. "O que vejo, nessa sentença é uma punição à mulher", disse para Universa. "É uma violência de gênero. Essa mãe não pode perder a guarda por ser comissária de bordo. A não ser que o pai ficasse 24 horas por dia disponível para o filho. É uma decisão violenta", completa.

"Vamos apelar, expor e mostrar que a decisão do juiz da Vara da Família de Maringá foi preconceituosa e sem cabimento", diz a comissária. "Não se pode julgar uma pessoa por ela trabalhar dignamente, ainda mais com as provas de que a criança sempre morou comigo. Ele foi arrancado de mim, do meu convívio, e as provas foram ignoradas", diz a comissária.

Com informações do UOL