PIB, pibinho...

08 de Março 2020 - 08h48
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O PIB brasileiro cresceu apenas 1,1%, bem abaixo do que, de forma otimista, a equipe econômica e mesmo bancos e corretoras previam, mas também muito acima do que andam dizendo nas redes sociais, afinal o Brasil não está decrescendo mas crescendo menos.

É preciso fazer um resgate para entender o que anda ocorrendo com a economia brasileira.

O atoleiro no qual nos encontramos precisa ser debitado na conta correta, a da ex-presidente Dilma Rousseff, a gerentona escolhida por Lula como sua sucessora.

A gestão Dilma foi responsável pelo terceiro pior desempenho, em termos econômicos, entre todos os presidentes, desde a proclamação da república.

Dilma só bate Floriano Peixoto, que pega o rescaldo da crise do encilhamento, nascida e alimentada pelo seu antecessor, Deodoro da Fonseca, e Fernando Collor, comandante da desastrada intervenção econômica patrocinada por Zélia Cardoso, sua ministra da economia.

Segundo estudo do professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a debacle dilmista não pode ser atribuída a qualquer evento externo, pois não houve alterações de monta na taxa de crescimento da renda per capita global nos primeiros anos desta década em relação à média dos últimos 36 anos.

Os números brasileiros, porém, apresentaram forte declínio, o que leva o estudioso a dizer que noventa por cento do fracasso de Dilma é resultado de falhas nacionais, em sua maioria nascidas no seio do governo.

Para o professor, a lema de Dilma foi “errar, errar de novo”, como se errar sempre pior fosse “a diretriz estratégica do governo Dilma”, o que resultou numa taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), nos anos Dilma, de apenas 0,2%, a famosa contra-indução denunciada por Mário Henrique Simonsen (uma experiência que deu errado inúmeras vezes deve ser repetida até que dê certo). No primeiro mandato foi de 0,3% e 0,1% entre 2015 e o primeiro semestre de 2016, ano em que ela caiu, após impeachment.

O legado foi transferido para o seu sucessor, Michel Temer, que, não restam dúvidas, merece os parabéns por, sem gritaria alguma, ter revertido um resultado de -3,3% em 2016 para um crescimento de 1,3% em 2017.

São vários os fatores que impedem a economia brasileira de decolar, alguns externos e outros internos.

Entre os externos: a recessão argentina e a diminuição no ritmo da economia chinesa.

Em meados da década de 1960, Castelo Branco preparou a economia para a retomada do crescimento, que se evidenciou já no mandato de Costa e Silva e, principalmente, no de Médici.

Os mecanismos de uma economia complexa como a brasileira não respondem de imediato às ações e injunções governamentais. O governo, por sinal, pode influenciar o crescimento, mas não controlá-lo.

Não é demais lembrar que em 2003, primeiro do mandato de Lula, a economia também cresceu os mesmos 1,1% de 2019.

Não era provável que Guedes e sua equipe fizessem milagres, ainda que o ministro tivesse dado indicações de que pudesse fazê-lo. E é por isso, por ter falado demais e sido até arrogante em alguns momentos, que Guedes tem de ouvir críticas caladinho.

Se tivesse sido mais cauteloso nos seus pronunciamentos, feitos sem base técnica, talvez Guedes não estivesse ouvindo clamor tão forte. Porém, preferiu sair proferindo bazófias sobre como iria zerar o déficit no primeiro ano e fazer a economia crescer 3% ao ano da noite pro dia, sem que os dados pudessem confirmar o que ele dizia.

Sendo mais marqueteiro do que economista, o ministro alimentou expectativas e, agora, tem de ficar com cara de paisagem ouvindo jornalistas e lideranças oposicionistas questionarem o crescimento pífio da economia nacional.

Ao governo Bolsonaro cabe criar trânsito no congresso nacional, pois a inabilidade política em levar adiante a agenda de reformas é, provavelmente, uma das responsáveis pelo baixo rendimento da economia, pois pressiona, para baixo, a confiança dos agentes econômicos.

Gritar que o congresso nacional está tomado por corruptos não resolve a equação, afinal ele está lá e enquanto estiver é com ele que o governo terá de negociar.