
A última edição da revista científica Sciencie, uma das mais prestigiadas do mundo, conta com a publicação de um pesquisador potiguar. Nascido em Natal, graduado com mestrado e doutorado pela UFRN, o cientista Brunno Oliveira emplacou a publicação do seu estudo (“Global wildlife trade across the tree of life”) sobre comércio ilegal de animais silvestres, uma prática pode que levar à extinção de diversas espécies.
Segundo Brunno, pela primeira vez, em uma colaboração entre pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, cientistas avaliaram a dimensão global do impacto do comércio de animais silvestres sobre a biodiversidade. Nesta pesquisa, o potiguar destaca que eles buscaram por evidências de comércio em mais de 31 mil espécies de aves, mamíferos, anfíbios e répteis, representando a grande maioria das espécies de animais vertebrados reconhecidas pela ciência até o momento.
“Identificamos que cerca de 20% (5.579) de todas as espécies são atualmente comercializadas. Extraímos informação sobre caça das duas fontes mais importantes sobre comércio de animais e conservação da biodiversidade global, a CITES e a IUCN”, comenta o pesquisador.
Neste trabalho, além de identificar onde estão os locais com maior diversidade de espécies de animais comercializados globalmente (locais que contém grande número de espécies comercializadas), incluindo a floresta Amazônica e Mata Atlântica brasileira, os autores utilizaram modelos estatísticos para prever possíveis novas espécies na lista dos caçadores.
Ou seja, foram identificadas espécies dentre aquelas que ainda não são comercializadas (ou ainda não conhecidas por serem), mas que tem alto risco de serem comercializadas no futuro devido às semelhanças que elas compartilham com as que são comercializadas atualmente. Estes modelos previram que até 3,196 espécies a mais podem ser impactadas no futuro. Essas previsões foram baseadas na proximidade filogenética e semelhança morfológica entre espécies atualmente comercializadas, que juntas totalizam 8,775 espécies em risco de extinção por causa desse comércio ilegal.
Apoio à pesquisa
Atualmente atuando como pesquisador na Universidade de Auburn, em Montgomery, Brunno destaca que sua trajetória no mundo acadêmico foi impulsionada por programas como CAPES e CNPq, que o possibilitaram, por exemplo, de realizar parte de seu doutorado na Universidade de Stony Brook, (Nova Iorque, EUA).
“Fui para Stony Brook como pesquisador visitante e isso só foi possível por causa do programa Ciência sem Fronteiras que financiou minha pesquisa fora do país. Sem sombra de dúvidas, sem as bolsas concedidas a mim, eu não teria adquirido a experiência que tenho hoje, determinante para que eu pudesse chegar aonde cheguei e publicar um artigo em umas das revistas científicas mais importantes. Foi durante meu doutorado sanduíche que conheci muitos pesquisadores (brasileiros e internacionais) e fui convidado por um desses pesquisadores, e um dos co-autores deste artigo, para um pós- doutorado na Universidade da Flórida, onde desenvolvemos diversas pesquisas, incluindo esta publicada na Science”, destaca o pesquisador potiguar.
Cortes
Instado sobre o atual corte de recursos direcionados para programas de fomento à pesquisa, o potiguar afirma que lamenta, pois, a educação, segundo ele, tem um papel transformador.
“Como cientista brasileiro, eu vejo com muito pesar os cortes de verbas direcionadas às intuições de ensino e pesquisa. Em um país com tamanha desigualdade social, investimento em educação deveria ser prioridade. Minha geração foi privilegiada por ter experimentado a melhor época de investimento de pesquisa no Brasil. Eu sou apenas um exemplo disso e do papel transformador da educação. O apoio que tive através de bolsas concedidas pela CAPES e CNPq foram fundamentais para hoje eu estar trabalhando em uma universidade fora do país. É muito triste ver a geração atual à mercê”, declarou.
Amazônia
Questionado sobre o papel da Amazônia diante da geografia global, o cientista potiguar destacou que bioma é vital para a humanidade, sendo uma questão estratégica e elementar fazer sua defesa e garantir sua proteção.
“A Amazônia é uma região especialmente única. A extensão da floresta Amazônica faz com que ela influencie o clima do mundo todo, não somente dentro do território Brasileiro. Ela tem papel fundamental no sequestro de carbono, o alimento utilizado pelas plantas para seu crescimento, que é importante gás estufa. Além disso, a Amazônia concentrada grande parte de todas as espécies de animais e plantas conhecidas pela ciência. Ao mesmo tempo em que a cada ano novas espécies são descritas, muitas outras são perdidas mesmo antes de serem conhecidas pela ciência. Uma vez que uma espécie é extinta, é para sempre. Somente considerando fármacos, anualmente uma diversidade de novas substâncias com potencial farmacológico são sintetizadas a partir de espécies selvagens. É de extremo interesse nacional coibir o desmatamento”, destacou o potiguar.