Para onde vão meio milhão de carros brasileiros que não chegam às ruas

19 de Outubro 2023 - 13h36
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Que o Brasil importa milhares de carros todos os anos, todo mundo sabe. Basta circular pelas ruas para ver a variedade de modelos produzidos em outros países que circulam pelo nosso solo. Por outro lado, cerca de meio milhão de veículos são produzidos anualmente por aqui, mas nem chegam a conhecer nossas estradas.

De acordo com dados da Anfavea - associação das montadoras de veículos que produzem no Brasil -, as fábricas de automóveis no país têm, somadas, uma capacidade de produção anual de 4,5 milhões de unidades. Com a demanda por modelos novos em baixa, apenas 2,5 milhões de veículos têm sido, de fato, fabricados. A questão é que as vendas para o mercado interno ficam em torno de 2 milhões de unidades, "sobrando" cerca de 500 mil.

De acordo com Milad Kalume, diretor da Jato Informações Automotivas, esse restante está dividido entre dois destinos: estoque e exportação. E os países que mais procuram por nossos modelos estão na América Latina.

"No acumulado até setembro de 2023, foram comercializadas, no México, 85.298 unidades de veículos produzidos no Brasil; 68.303, na Argentina e, até agosto, 18.190, no Chile", informa Kalume. Até setembro, já existem mais de 323 mil carros "nascidos" no Brasil circulando pelas ruas de outros países.

Entre os modelos exportados, estão velhos conhecidos dos brasileiros, como Renault Kwid, Jeep Compass, Toyota Etios e Corolla, Volkswagen Saveiro e Chevrolet Onix.

Um dado interessante é que, apesar de o México importar mais unidades, é para a Argentina que vão os modelos mais caros. O país é responsável por 34% da receita de exportação de veículos de passeio do Brasil, seguido por México (25%), Colômbia (11%), Chile (5,7%) e Uruguai (5,5%). Essas aproximações são fruto dos acordos de livre comércio entre os países do Mercosul e também com o México.

Nos primeiros nove meses do ano, foram exportados 3,3 bilhões de dólares em automóveis, 1,3% das exportações totais. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Apesar de o número chamar atenção, é metade do que foi exportado em 2017, o melhor ano do setor. Naquele período, 570 mil unidades saíram de nossos portos.

Volume em queda

Entre janeiro e setembro de 2023, a exportação de veículos caiu 11,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Para a Anfavea, em setembro, os números de embarques refletem a desaceleração dos mercados da Argentina (-16%) e Chile (-10%). No acumulado do ano, dos mercados da Colômbia (-32%) e do Chile (-29%).

Um novo imposto criado na Argentina tem preocupado os grandes fabricantes de carros no Brasil. O tributo Para uma Argentina Inclusiva e Solidária (PAIS) tem uma alíquota de 7,5% para os produtos importados, incluindo os automóveis feitos no Brasil. Isso já afetou a balança comercial entre os dois países, tanto que, pela primeira vez na história do setor, o México ultrapassou a Argentina e passou a ser o principal mercado dos automóveis e comerciais leves brasileiros.

Somando esse aumento dos preços a uma crise econômica que assola o país vizinho, a venda de carros pode cair por lá, impactando a indústria brasileira, que precisa dessa exportação para ajudar a esvaziar os pátios de carros zero-quilômetro.

Por falar em estoque...

Entre agosto e setembro, os veículos em estoque nas fábricas e concessionárias brasileiras aumentaram 8%, de 244 mil para 265 mil. Esses modelos são os que não são vendidos no mercado interno, nem encaminhados para exportação, por isso, ficam nos pátios aguardando seu destino.

De acordo com dados da Anfavea, esse número é suficiente para alimentar 40 dias de vendas de veículos no país. A título de comparação, em setembro de 2019, antes da pandemia, eram 348 mil carros nos pátios.

Com informações do UOL