Morro do Careca ficará descaracterizado caso engorda não seja feita, diz professor

14 de julho 2023 - 08h11
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O Morro do Careca, símbolo de Natal, corre o risco de ser descaracterizado e perder sua identidade, caso não seja realizada a engorda da praia de Ponta Negra. É o que afirmam especialistas consultados pela Tribuna do Norte. O principal cartão-postal da capital potiguar sofre um contínuo processo de erosão que, aos poucos, vai substituindo a areia fina pelo aspecto rochoso de uma falésia.

De acordo com o doutor em Geografia e coordenador da pós-graduação em Geografia da UFRN, Rodrigo de Freitas, a falta de ações para conter a erosão coloca o Morro do Careca em sério risco. “Olha, se nada for feito, essa falésia terá recuado ainda mais, vamos ver o material muito mais antigo (rochas) e a altura do Morro do Careca terá diminuído. Mas, se a vegetação começar a avançando ainda mais, teremos uma perda da característica da careca, porque o Morro do Careca é uma pareidolia, a comparação da feição com alguém que tenha pouco cabelo, alguém calvo”, explicou.

Segundo o geógrafo, embora o desaparecimento do Morro do Careca não seja iminente, estima-se que leve aproximadamente uma década para que isso ocorra, caso não sejam tomadas medidas adequadas, como por exemplo, a obra de engorda. O aspecto mais preocupante é a possibilidade de perder as características distintivas que tornam o morro tão reconhecível. Cada vez que essas características únicas são perdidas, ocorre uma descaracterização que afeta a identidade do morro. Assim como acontece com outros monumentos naturais, o Morro do Careca desempenha um papel simbólico para Natal, representando uma parte essencial de sua identidade e herança cultural.

“Aqui tem duas medidas (que podem ser tomadas), a primeira dela é tentar conter a erosão da base do morro e, isso não pode ser feito com obra de engenharia, porque se criar um paredão de concreto vai descaracterizar a parte paisagística, né? E, aí se for feita a engorda, as ondas não atingiriam mais a base do Morro do Careca. Então, já é um primeiro passo”.

E  prosseguiu: “Agora, o que a gente tem chamado atenção é que é necessário ir além e começar um estudo, uma pesquisa para quantificar o sedimento que chega no Morro do Careca e ver se é suficiente para manter a feição.  É igual um doente, você precisa fazer um conjunto de exames para entender e ver a dosagem correta do remédio”,  concluiu.

De acordo com o professor, o Morro do Careca está passando por mudanças significativas em sua aparência. Anteriormente, a abertura característica do topo era maior, porque tinha mais areia, porém agora, “a vegetação está tendendo a fechar por causa que tem menos areia chegando, tendo mais erosão e está saindo mais areia, ou seja, tanto está chegando menos, como está saindo mais areia, isso vai fazendo com que ele se estabilize e a vegetação avance e vai fechando (tomando conta do Morro do Careca)”, disse.

Segundo Rodrigo de Freitas, “se nada for feito, a falésia tende a recuar, porque a água está erodindo a base dela, as ondas estão 'solapando' a base e vai removendo pouco a pouco. E como ela vai removendo, vai avançando, como por exemplo, as reentrâncias erosionais, onde tem fraturas, falhas, um ponto de menor resistência é mais acelerado o processo erosivo”, ressaltou.

Com informações de Tribuna do Norte