
Na semana em que o brasileiro foi surpreendido com a notícia que a TV Globo não mais vai transmitir as corridas de Fórmula 1, coisa que se acostumou a ver desde os anos 70, o Blog do Kolluna traz uma história genial que permanece ofuscada por um acidente grandioso e vive nos bastidores da disputa mais célebre de todos os tempos da F1.
O ano era o de 1976, responsável pela intrépida disputa entre o inglês James Hunt e o austríaco Niki Lauda e que ao final teve o final feliz para Hunt, vencendo o campeonato mundial por 01 (um) ponto.
A temporada não somente foi atrativa pela briga entre os dois pilotos e as estratégias das escuderias MacLaren e Ferrari para conseguirem vantagem uma sobre a outra, mas também pela exploração da vida privada dos dois pilotos neste ano, quando se separaram de suas esposas, e, mais ainda, em razão da espantosa recuperação de Niki Lauda após o trágico acidente em Nurburgring (Alemanha) e que desfigurou o seu rosto em razão de queimaduras. Admiravelmente, o austríaco voltou a correr 42 dias após o desastre.
Mas, onde entra o título desta postagem nessa história? Coincidentemente, a primeira corrida após o acidente de Lauda foi o Grande Prêmio da Áustria, seu país natal, e a Ferrari decidiu não deslocar seus carros para os Alpes Austríacos, deixando de fora a possibilidade dos seus pilotos lutarem pelo triunfo na prova.
No ano anterior, exatamente naquele circuito, a equipe Penske tinha perdido o piloto e um dos sócios da escuderia, o norte-americano Mark Donohue, amigo pessoal do piloto irlandês John Watson. Em 1976, Watson, que cultivava espessa barba, era o único piloto da Penske na temporada. Havia conquistado dois terceiros lugares e, para aquela corrida, tinha garantido um lugar na primeira fila, atrás apenas de Hunt, que fez a pole.
“Osterreichring é um circuito especial e o acidente com Mark ainda estava na memória da equipe. Seria tristemente irônico vencer no mesmo local onde o time perdeu Mark. Então, ao descer do carro, após confirmado o lugar na primeira fila, eu falei para o Roger (Penske), dono da escuderia, que rasparia minha vasta barba se vencesse a corrida”, conta o irlandês.
Ao fim do grande prêmio, Watson com sua Penske-Ford foi o primeiro a receber a bandeira quadriculada. Foi a primeira vez que a equipe vencia um GP, sua primeira vitória e a primeira da Irlanda do Norte na F1. O francês Jacques Laffite (Ligier-Matra) e o sueco Gunnar Nilsson (Lotur-Ford) completaram o podium.
Durante a tradicional comemoração, alguns membros da equipe cobraram a promessa, mas Roger Penske nada falou ou mesmo cobrou qualquer atitude do piloto vencedor. À noite, voaram para Londres e combinaram uma reunião no outro dia, durante o café da manhã. Watson diz que, já no quarto do hotel, se olhou no espelho, passou a espuma sobre a barba, preparou a navalha e raspou o rosto.
De manhã, desceu para o café antes de Roger e de Heinz Hofer, o gerente da equipe. Estava no salão quando viu os dois lhe procurando.
Eu disse: “Roger, aqui”, sem levantar a mão.
Rindo, mas com uma ponta de emoção em sua fala, expôs Watson:
“Os dois ouviram a voz, mas não me reconheceram. Roger não achava que eu rasparia a barba, e eu não podia esperar melhor momento para tirar aquela coisa. A promessa foi cumprida. Para Roger. Para a Penske. E por Mike Donohue”.
Créditos de informações e imagens para criação do texto: “Corrida para a Glória” (Tom Rubython); https://contosdaf1.wordpress.com/2016/05/04/austria-1976-watson-e-penske-uma-vitoria-por-donohue/