Imigração cresce com Covid-19; advogado potiguar relata sua jornada para os EUA

04 de Maio 2021 - 07h51
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A pandemia da covid-19 e a situação econômica no Brasil criaram uma crise humanitária "sem precedentes" e "crescente" que está impulsionando a migração para os Estados Unidos. O advogado potiguar Júlio Henrique de Macedo Alves é um exemplo disso. O profissional passou pelo movimento migratório para os EUA em 2018 e hoje atua em um escritório que trabalha com a imigração para clientes brasileiros. O advogado, que integra um capital precioso ao país, fala sobre a sua jornada e a situação da emigração em massa pela qual o Brasil vem passando.

Júlio é natural de Natal/RN. Foi na capital potiguar que concluiu sua graduação em Direito, na UFRN, e onde iniciou a sua carreira em um escritório de advocacia. Em 2018, ele decidiu expandir seus horizontes internacionalmente e prevendo um agravamento da crise econômica pela qual o Brasil já passava no período, aplicou para mestrados nos Estados Unidos, tendo obtido uma bolsa por suas conquistas profissionais na Universidade de Fordham, Nova York.

“Pautei minha carreira em sempre querer expandir meus horizontes. Sempre tive muita paixão pelo Direito Internacional. Confesso que foi difícil deixar uma carreira estável e com muito potencial de crescimento no Brasil, mas a oportunidade veio no momento perfeito. Eu olhava para o Brasil e não via perspectivas de melhora. E ainda não vejo. A taxa de desemprego atual do Brasil é de 14%. Pelo menos hoje eu posso aplicar meu conhecimento da legislação brasileira, internacional e americana no meu trabalho. Trabalhei por anos com clientes do meio corporativo, sei como interagir com essa classe brasileira, e sei como eles agem. Isso inclusive tem sido fundamental para mim aqui”, revela.

A realidade do Brasil ser um exportador de mão-de-obra é antiga, de fato, mas nos últimos anos esse movimento tem aumentado muito, explica Júlio. “Acredito que isso é muito danoso para o país, porque o que se verifica é que o pessoal que sai do país é altamente capacitado e necessário para o crescimento econômico da nação. Passando pela crise e sem perspectiva de melhora, o país afunda cada vez mais, uma vez que precisaria desses profissionais para movimentar o mercado”, acrescenta.

De acordo com o advogado internacional, o Ministério das Relações Exteriores estima que o número de brasileiros vivendo fora do país é superior a 3 milhões. “O problema é que esses 3 milhões de brasileiros pertencem a classes que, em geral, movimentam a economia por produção de conhecimento, capital, e alto consumo. Trabalho com imigração para os EUA, voltada para executivos, e vejo como o movimentado tem aumentado em decorrência da crise econômica no Brasil, aliada também a um cenário de recuperação acelerado nos EUA”, alerta Júlio.

Os cinco países com mais brasileiros, acrescenta Júlio, são os Estados Unidos, com 23,8% do total da população vivendo no exterior, Portugal, com 13,4%, Espanha, com 9,4%, Japão, com 7,4% e Itália, com 7,0%. Os Estados Unidos, por sua vez, é um país de imigrantes, diz. “Somados os números de imigrantes legais e ilegais, atualmente, tem-se 28 milhões de pessoas. Certa de 10% da população do país é de imigrantes. A verdade é que o país tem se tornado cada vez mais seletivo na entrada de pessoas, deixando apenas os mais capacitados e que, pelo menos em tese, mais beneficiem a economia”.

Sobre a mão-de-obra, Júlio também destaca. “A mão-de-obra que sai do país é jovem. População que investiu em educação, mas que não vai dar retorno ao país. Diria que 80% de quem toma a decisão de buscar estudo no exterior ou se mudar do país de vez tem menos de 40 anos. É uma população fundamental para a economia”, frisa. Para se ter uma ideia, acrescenta Júlio, com a queda do PIB brasileiro em 2016, o número de emigrantes para países desenvolvidos em 2017 aumentou em 24%. “Com as quedas mais recentes, é esperado que os números sejam ainda maiores. O problema é que com o COVID os países simplesmente têm fechado as fronteiras para o Brasil. Solução só tem uma: recuperação da economia, e todos sabemos o quão árduo esse caminho vai ser”, finaliza.