Haddad vestido de pavão

15 de Janeiro 2024 - 08h38
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Em entrevista concedida ao jornalista Alvaro Gribel, d’O Globo, o ministro da Fazenda Fernando Haddad começou o ano dizendo o de sempre “que não pode errar na economia para evitar a volta da extrema direita ao poder”, lamuriou-se por não ser reconhecido e finalizou mostrando o tamanho da vaidade que carrega (https://oglobo.globo.com/economia/alvaro-gribel/coluna/2024/01/haddad-tem-a-ciencia-do-risco.ghtml).

Eu particularmente sou daqueles que pensa estar fazendo Haddad, dada a tormenta que enfrenta, um trabalho razoável.

O ministro começou a gestão à frente do ministério falando em mudanças, em contração de gastos e elevação de impostos e diminuiu o ímpeto. Terminou o primeiro quarto de governo praticamente com o discurso da elevação de impostos e apontando a bússola para discutir sua relação com parte da cúpula PT, representada por Gleisi Hoffmann, presidente da agremiação partidária.

Durante a entrevista, o ministro falou sobre os embates partidários no qual os resultados considerados favoráveis na condução da economia são celebrados e atribuídos a Lula e a ele, Haddad, o planejador, o negociador e o executor, sobram críticas – como a de austericida, neologismo político.

O confronto entre Haddad e Gleisi vai muito além do que aparenta nas declarações públicas, pois o ministro trabalha com o princípio de que a cúpula do PT opera com a premissa de que a política econômica “está toda errada”. Gleisi rebate alegando que a preocupação dela e do partido está circunscrita à “política fiscal contracionista”, a qual, aponta o grupo que dirige o PT, flerta inocente ou descaradamente com a recessão. Perigosíssimo, ainda mais em ano eleitoral.

Segundo o jornalista Elio Gaspari, em artigo publicado na Folha de São Paulo, a entrevista do ministro a’O Globo levou o PT a dar encontrões e empurrões em Haddad, notadamente por ter tratado da sucessão presidencial, antecipando em mais de dois anos o calendário eleitoral, tendo vista que entre a eleição presidencial de 2022, ganha pelo PT, e a de 2026, existe o pleito municipal de 2024 (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2024/01/haddad-mostra-em-declaracoes-uma-audaciosa-vaidade.shtml).

Vale ressaltar que Haddad foi sincero, mas mostrou uma ponta de ressentimento, associada a uma excessiva e perigosa vaidade, conforme é possível perceber: “Nos cards de Natal, o que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’ O meu nome não aparece. (...) Eu fui criticado no MEC, mas virei o melhor ministro da Educação da história do país, depois que deixei o MEC. Melhor prefeito da história de São Paulo, depois que deixei a prefeitura. Tomara que aconteça a mesma coisa agora.”

A se fiar no comportamento do eleitor paulistano, que negou a renovação do mandato do prefeito Haddad, em 2016, o seu desempenho à frente da prefeitura de São Paulo não foi dos melhores.