Hacker 'mandou prender' Moraes e, com medo de morrer, entregou Zambelli

13 de julho 2023 - 03h59
Créditos:

Em 4 de janeiro de 2023, quatro dias antes da invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília, o BNMP (Banco Nacional de Monitoramento de Prisões) recebeu um pedido de detenção atípico. "Expeça-se o mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L."

O falso pedido de prisão de Moraes contra ele mesmo levou o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), responsável pelo BNMP, a retirar o sistema do ar no dia seguinte. A razão, informou o órgão, era uma "publicação indevida". 

A publicação "determinava" a remessa de "todos os inquéritos de censura e perseguição política em curso no Supremo para o CNJ a fim de quem me punam exemplarmente".

O caso, desde então, passou a ser investigado pela Polícia Federal. 
Seis meses depois, a autoria da "brincadeira" não é mais nenhum mistério. Ela tem as digitais de Walter Delgatti Neto, mais conhecido como o hacker de Araraquara.

Preso, no fim de junho, por descumprir uma medida cautelar que o proibia de acessar redes sociais, o pivô da Vaza Jato deixou a carceragem da Polícia Federal em São Paulo na noite de terça-feira (11) por ordem da Justiça. De lá seguiu para Araraquara (SP), onde vai responder ao processo em liberdade e com monitoramento eletrônico.

O Hacker de Araraquara já admitiu que foi ele o autor da invasão ao CNJ e da trolagem contra Moraes. Mas diz que só fez o que fez a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que, segundo ele, queria usar a invasão para provar uma suposta "fragilidade" dos sistemas. Delgatti e Zambelli se aproximaram antes das eleições de 2022.

Em agosto do ano passado, o hacker chegou a se encontrar com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o chefe de seu partido, Valdemar da Costa Neto, em Brasília. Zambelli foi quem intermediou a reunião. 

O hacker, que em entrevista ao UOL, em julho, reclamava de não conseguir emprego devido à proibição de acessar a internet, teria passado a trabalhar para a deputada, segundo ele mesmo disse ao site Brazilian Report.

Sua defesa diz que ele foi contratado para prestar consultoria sobre a segurança nas urnas. 

A invasão ao sistema do CNJ teria sido uma espécie de prêmio de consolação para a deputada, que queria, na verdade, que ele hackeasse as urnas eletrônicas e as contas de Moraes. Informações sobre o depoimento de Delgatti à PF foram publicadas no blog da jornalista Andréia Sadi, do G1. Segundo a jornalista, Delgatti teria afirmado que foi a própria Zambelli quem redigiu a "ordem de prisão", e que ele só teria corrigido alguns errinhos de português antes de invadir e "expedir" o mandado.

Segundo o jornalista Octávio Guedes, do G1, Delgatti disse ter relatado as conversas com Zambelli à PF por medo de morrer. O hacker, que não descarta "entregar" Zambelli em uma delação formal. 

Procurados, os advogados de Delgatti, Ariovaldo Moreira e seu filho, Mateus Moreira, confirmaram que o cliente responde a um inquérito relacionado à invasão do CNJ, mas não quiseram dar detalhes. Devido à menção ao nome da deputada, o caso subiu para o STF, segundo os defensores. 
 
Zambelli já disse desconhecer a história da invasão ao CNJ. 

Com informações de TAB, UOL