Gás natural da Argentina polui mais que o do Brasil

24 de Janeiro 2023 - 08h18
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Ao decidir financiar com centenas de milhões de dólares o gasoduto para gás natural na Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tocou num ponto muito importante: o tipo de gás explorado no país vizinho é muito mais poluente do que o encontrado no Brasil, nos poços do pré-sal.

O fato é que a exploração de gás de xisto (o tipo de insumo da Argentina) não é regulamentada no Brasil e já foi objeto de decisões judiciais na Bahia e no Paraná que suspenderam as atividades de exploração por meio do fraturamento em áreas leiloadas pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). 

A reserva de Vaca Muerta, no oeste da Argentina, é uma formação geológica rica em gás e óleo de xisto. Para extrair gás desse tipo de local há um processo considerado muito danoso ao meio ambiente, porque é necessário quebrar o solo, num sistema conhecido em inglês como “fracking”, derivado de “hydraulic fracturing”.

Nesse tipo de processo, é necessário fazer uma perfuração vertical no solo até uma determinada profundidade. Depois, a broca muda para a direção horizontal para ir fraturando o solo, inserindo água e produtos químicos e assim liberando gás e óleo que possa estar “preso” entre as rochas.

“O processo requer grande volume de água, emite gases que provocam o efeito estufa, como o metano, libera ar tóxico na atmosfera e produz barulho. Estudos indicam que esse tipo de operação para extrair óleo e gás podem levar a perda dos habitats de plantas e animais, declínio das espécies, disrupções migratórias e degradação da terra. Estudos também demonstraram haver uma associação entre os locais de extração de óleo e gás de xisto com gravidezes malsucedidas, incidência de câncer, hospitalizações e episódios de asma”, diz o texto da Yale University.

O financiamento de um gasoduto que pretende transportar gás de xisto é hoje contraditório para a agenda verde do BNDES, que tem sido uma das prioridades do banco de fomento brasileiro nos últimos anos.

Para o diretor e fundador do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, financiar o projeto oferece riscos para o banco para além das questões ambientais. “Infelizmente, a Argentina e América Latina como um todo têm uma instabilidade política e regulatória muito grande. Não sabemos o que será a Argentina daqui a 12 meses”, declarou. 

O gasoduto de Vaca Muerta é um dos mais relevantes projetos de infraestrutura da Argentina. O país pretende com isso exportar o insumo para países vizinhos, sobretudo o Brasil, e aumentar a entrada de moeda forte no país.

O presidente Alberto Fernández firmou um pacto energético com o Brasil em novembro para cooperação nessa área. É dentro desse contexto que agora, com a chegada de Lula ao Planalto, que o país vizinho passou a fazer lobby para receber o financiamento do BNDES. 

Com informações de Poder 360