Fake news e gafes no RS pioram imagem do governo, diz pesquisa do Planalto

26 de Maio 2024 - 06h52
Créditos: Canal Gov

Os desdobramentos das enchentes no Rio Grande do Sul fizeram de maio o pior mês para a imagem do governo Lula (PT) neste terceiro mandato do presidente. É o que mostram pesquisas internas do Planalto.

Pesquisas encomendadas pela própria gestão mostram que o governo sai arranhado da tragédia. Entre os principais motivos estão as fake news espalhadas contra o governo, um entendimento de que os órgãos públicos demoraram a agir e as gafes do presidente Lula e da primeira-dama, Janja da Silva.

Falas de Lula e Janja tiveram repercussão negativa nas redes e até entre a bancada. Aliados e pessoas ligadas ao governo citam os casos da declaração de Lula sobre não saber que havia tantos negros no RS, o destaque dado por Janja ao resgate do cavalo Caramelo e a foto da primeira-dama com cestas de alimentos no avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

A Secom (Secretaria de Comunicação Social) evita o assunto e o Planalto insiste nos feitos do governo. Segundo a presidência, já foram destinados mais de R$ 62 bilhões em resposta à tragédia.

Fake news e letargia pública

Lula foi três vezes ao Rio Grande do Sul desde o início das enchentes e tem tentado passar a imagem de menos burocratizaçãoNão tem funcionado: a avaliação interna é que o governo não conseguiu mostrar isso.

Pelo que foi coletado, há uma percepção da população sobre uma demora das autoridades no geral. Sob o entendimento de que voluntários e moradores estavam tomando a dianteira inicial dos resgates e das ajudas, os atingidos não fizeram distinção específica entre os poderes municipais, estadual e federal, mas o episódio tem sido explorado politicamente pela oposição.

O Planalto também culpa fake news, espalhadas até por parlamentaresTema reiterado nos discursos de Lula e seus ministros, o governo tem investido em tentar desmentir as desinformações, que vão da suposta inação da gestão a notícias falsas sobre impedimento de entrega de alimentos.

Falas e fotos de Janja

Aliados destacam, no entanto, as gafes como ponto central. Para pessoas próximas e interlocutores do governo, a fala do presidente, que disse não saber que havia "tantos negros no Rio Grande do Sul", e ações da primeira-dama desviaram a atenção das ações do governo.

Membros do governo dizem que houve desproporcionalidade com a atenção ao cavalo Caramelo. O animal, que causou comoção nacional ao ser flagrado em cima de um telhado, virou um dos focos da atenção de Janja, que chegou a acionar o Exército para resgatá-lo. Emocionada, a primeira-dama interrompeu o evento oficial sobre socorro no Planalto para anunciar o resgate — Lula também o mencionou no discurso.

Na visão de apoiadores, houve um "foco muito grande em um animal" enquanto havia "problemas maiores". Parlamentares do Sul narram que chegaram a ser cobrados por eleitores por que suas histórias "não ganharam comoção semelhante à de um cavalo".

A imagem da primeira-dama com cestas de alimento no avião da FAB também foi alvo de críticas. Janja postou nas redes sociais uma foto em um avião de passageiros da FAB sendo usado para o transporte de cestas básicas. Na foto, cada kit ocupava um assento da aeronave.

Criticada pela oposição, a imagem também desagradou a base. Ao UOL, parlamentares do estado dizem não ter sido convidados para irem ao estado, enquanto um avião de passageiros era ocupado com uma cesta básica por assento. As lideranças locais argumentaram que o avião não só não tinha esta finalidade, como também ouviram reclamações da população, ironizando que "uma caminhote consegue levar aquele número" e o avião "estava vazio".

Eu falei para a Janja no domingo que é impressionante. Eu não tinha noção que aqui tinha tanta gente negra. E ela me falou que são os mais pobres e moram nos lugares mais arriscados para serem vítimas dessas coisas.
presidente Lula durante discurso no dia 15 de maio em São Leopoldo

Fonte: Uol