Entrevistas no JN têm favorecimentos, respostas incompletas e ataque a Bolsonaro

27 de Agosto 2022 - 07h50
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A rodada de entrevistas do Jornal Nacional com os candidatos a presidência da República foi encerrada nesta sexta-feira (26) com Simone Tebet, do MDB. Mas, levando-se em conta os quatro entrevistados da semana que está se encerrando, ficam como marcas das sabatinas muitos favorecimentos, respostas incompletas ou falsas e o principal, o completo ataque a Jair Bolsonaro promovido pelos dois apresentadores do noticiário: William Bonner e Renata Vasconcelos.

Nem de longe Bolsonaro recebeu o mesmo tratamento dispensado aos demais entrevistados. Os temas escolhidos, é verdade, não poderiam ficar de fora. Urna eletrônica, crise econômica, pandemia, entre outros, tinham que ser questionados ao presidente. E, apesar do bate boca que a entrevista se transformou em muitos momentos, Bolsonaro saiu da Globo sem causar maiores problemas a sua campanha. Se não ganhou voto, também não perdeu. E evitou qualquer vídeo negativo que servisse de combustível a oposição. Ao contrário, até a cola na mão foi pensada como forma de gerar repercussão a seu favor no pós-entrevista. Em números, foi o que teve menos tempo a falar, ficou apenas com 24 minutos, enquanto Bonner e Renata ficaram com 16, arredondando. Como disse o próprio Bolsonaro no twitter, foi quase um "pronunciamento" de Bonner.

A sequência das entrevistas, com Ciro Gomes, escancarou a diferença de tratamento que só foi se avolumando no decorrer dos dias. O presidenciável do PDT, que tem uma eloquência destacada e de conhecimento dos brasileiros há muitos anos, utilizou o espaço para uma verdadeira propaganda eleitoral. Apresentou propostas, fez críticas aos adversários e aproveitou até para divulgar o livro de sua autoria onde, segundo ele, constam suas propostas para o Brasil. O problema: quase todas os projetos apresentados, além de difícil compreensão para a maioria do eleitorado, também é difícil de acreditar que serão colocadas em prática.

Com Lula veio o momento mais polêmico. O JN permitiu ao ex-presidente falar mais do que os adversários, sem tantas interrupções e ainda contou com um questionamento feito por William Bonner onde o global isentou Lula de qualquer dívida com a Justiça. Ora, o editor do JN esqueceu que Lula não foi inocentado em nenhuma das acusações que o levaram a cadeia. Saiu da prisão por uma mudança de entendimento do STF sobre a pena em segunda instância e se beneficiou por um suposto erro jurídico cometido pela Lava Jato e pelo ex-juiz Sérgio Mora. Depois, viu parte dos seus prováveis crimes sendo prescritos. Ou seja, a Justiça jamais decidirá se Lula é realmente culpado ou não. 

Mas, além disso, Lula deixou trechos na entrevista que são extremamente negativos a ele próprio. Claro, além de falar muito bem como sempre fez, errou ao não apresentar nenhuma proposta nova para combater a corrupção - logo em um tema tão central para a sua campanha. Também não se saiu bem ao falar da Lava Jato, culpou o trabalho dos promotores e da Polícia Federal pela perda de milhares de empregos, fechamento de empresas e fuga de investimentos. Ora, a culpa disso tudo não foi da corrupção desenfreada dos governos petistas? E, por fim, ainda evitou se comprometer com a lista tríplice para a escolha do futuro Procurador Geral da República. Disse que queria deixar uma pulga atrás da orelha. Porém, minutos antes havia se gabado de ter seguido a lista em seus governos. Incoerência com qual motivo?

Simone Tebet foi prejudicada por ter sido entrevistada após a estreia do horário eleitoral gratuito. A audiência da Globo, assim como de todas as emissoras, desabou. A presidenciável, então, falou para bem menos eleitores que os concorrentes (neste quesito Bolsonaro venceu Lula, inclusive). Mas, no geral, a senadora do MDB atropelou os entrevistadores. Foi, de longe, bem superior aos concorrentes, mesmo tendo que responder a perguntas igualmente espinhosas. Soube se afastar da ala mal vista do seu partido, enalteceu sua história, mostrou uma emoção natural que é rara em políticos. Simone é dos quatro a mais desconhecida e teve no JN sua primeira grande chance de se apresentar aos brasileiros. E se saiu extremamente bem.