E Lula segue firme rumo ao Planalto

28 de Dezembro 2021 - 14h06
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Sou daqueles que confiam desconfiando em pesquisas eleitorais. Ainda mais faltando dez meses ou mais para o pleito. Entretanto, por mais descabidas que elas sejam, todas indicam vitória folgada do ex-presidente Lula, com risco de decidir a parada no primeiro turno.

Pesquisas eleitorais são retratos de momentos. E em campanhas longas, como a brasileira, quando os potenciais contendores já estão na raia quatro anos antes do momento da largada, é difícil que os números, ao final, retratem com precisão o que ocorrerá na linha de chegada.

Cito sempre o exemplo da eleição presidencial de 1994. Desde 1993 até o meio do ano seguinte, Lula era o candidato favorito. Favoritaço, para usar expressão de um comentarista de futebol quando quer demonstrar a distância entre duas ou mais equipes que disputam um campeonato. Fernando Henrique Cardoso, então ministro da fazenda, pretendia se desincompatibilizar do cargo para concorrer a deputado federal por São Paulo. FHC, que era senador licenciado, sabia que não conseguiria renovar o mandato para o senado. Veio o Plano Real e o ex-ministro da fazenda do governo Itamar Franco, um azarão, atropelou Lula, no primeiro turno – e repetiu o feito quatro anos depois.

Cada eleição é uma história diferente e nesta que se avizinha, Lula é – mais pelos defeitos do seu até agora principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro, e menos pelas suas qualidades – favorito com folga (eu até suspeito que ele não será candidato, mas isso é assunto para outro texto). Convém, entretanto, não festejar muito antecipadamente.

De onde vem a força de Lula?

Só é possível entendê-la se atentarmos para quatro coisas: 1) o isolamento de Bolsonaro, cercado por aliados de ocasião, sobre os quais ele não tem controle algum; 2) a polarização, a exemplo do ocorrido em 2018, que em 2022 (os dados de 2021 indicam isso) parece favorecer ao candidato petista; 3) o sistema erguido na nova república identifica em Lula condições mais propícias para sobreviver; 4) a percepção que as camadas populares têm de que, durante o governo Lula, as condições de vida era melhores.

Os políticos ditos profissionais apostaram na derrocada de Lula, tragado pelos escândalos de corrupção de seu governo, e não atentaram para a melhoria de vida das camadas mais pobres da sociedade. E aí quebraram a cara.

Lula está mais forte por vários motivos, porque é nordestino, veio de baixo, consegue se fazer entender pelas massas e é bom palanqueiro. Mas principalmente porque os mais pobres, que constituem a maioria da população, estão dizendo, através de sua intenção de voto, que tiveram melhor de vida durante a os anos de Lula na presidência. Ninguém quer saber de discurso racional, do tipo “a melhora não era sustentável”, porque quem sentiu viver melhor não quer saber de indicadores econômicos que não interferem de imediato em sua vida. Ademais, política é, também e principalmente, momento. E o momento dos pobres foi, assim eles percebem, mais agradável com Lula do que com outros presidentes. Os números atestam, com precisão, que houve melhoria de vida dos pobres e mostram que eles são fruto de uma combinação de distribuição de renda com crescimento econômico, associada a medidas de cunho assistencialista como bolsa-escola, vale-gás, aumento do salário-mínimo, queda ou pequeno aumento do preço dos alimentos, entre outras coisas.

Se é assim, por que não experimentar de novo?

Ninguém está dando muita bola para os casos de corrupção ocorridos no núcleo governamental da era petista. A maioria continua derramando suas intenções de voto no candidato do PT. E Lula consegue, por ora, desligar sua imagem da do partido da estrela vermelha e de seus aliados encrencados no poder judicário (ele mesmo ainda deve explicações à justiça).                 

O PT errou no passado porque desprezou a força do Real – assim como o PSDB também errou ao apostar que, como o crescimento econômico médio era ruim (e era mesmo), os pobres estavam perdendo.

Hoje, o presidente Bolsonaro e seus aliados perdem porque não entenderam que, parece, a onda de 2018 passou e eles não foram capazes de surfá-la. Querem artificialmente fazê-la retornar. Será que têm tecnologia para tal? As pesquisas mostram que não.

É aguardar as pesquisas de janeiro em diante, todas devidamente chanceladas pelo TSE, e, acima de todas elas, o resultado das urnas.